Eremitas e Anacoretas. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 05 de Fevereiro, 2023


 

A solidão é um luxo da civilização!

Na vida selvagem, o Homo sapiens sempre foi uma espécie rara e ameaçada. O indivíduo não sobrevivia separado da horda, do grupo, do clã e da tribo. A solidão lhe era estranha.

Mesmos os deuses viviam coletivamente no Olimpo. Entretanto, os seus oráculos eram sempre obscuros e indecifráveis. O indivíduo é efêmero, só o coletivo possui permanência.

Deus soltou Adão sozinho no Paraíso, mas logo se arrependeu: “Não é bom que o homem esteja só.” E criou a mulher. A solidão nunca foi bem-vista.

Aristóteles acreditava que o homem era um animal social, logo, não existia lugar para a solidão.

Narciso, filho da ninfa Liríope, herda da mãe uma beleza estonteante. O oráculo Tirésias predisse que Narciso só sobreviveria até conhecer a sua imagem.

Narciso, quando a vê refletida, apaixona-se por si próprio. Vai viver solitariamente. Narciso logo percebe que não pode se apaixonar por sua imagem, ela se transforma com o movimento da água. Narciso comete o suicídio e se transforma numa flor amarela e branca.

A solidão não acaba com a morte. Todo o defunto é por natureza solitário. Chegará sozinho para enfrentar o juízo final. Não existe solidariedade no mundo dos defuntos.

O livro dos mortos dos egípcios, traz um belo poema:

“Só, eu percorro as solidões cósmicas/ um raio de luz emana/ de todo o meu ser./ Sou um ser rodeado de muralhas/ no meio de um universo rodeado de muralhas./ Sou um Solitário no meio/ de minha solidão”.

Morre-se só!

A morte é a eterna solidão. O homem se transforma em sombras a vagar sozinho pelo Cosmo.

A morte cívica condena à solidão temporária. A contemplação necessária aos velhos, independe da solidão.

Vivemos uma solidão involuntária, imposta pelos tempos. “Não existe escolha: ou a solidão ou a vulgaridade.” – Schopenhauer.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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