Louco ou Santo? - Padre Felismino da Costa Fontes - 1848-1892. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 15 de Fevereiro, 2023 - Atualizado em 15 de Fevereiro, 2023

 

 

Nascido em Itabaiana, em 1848, Felismino da Costa Fontes descendia de pequenos comerciantes e proprietários rurais. Seguiu a carreira eclesiástica, ordenando-se em 1874, justamente no ano em que Antonio Conselheiro viveu em Itabaiana, na Rua da Pedreira.

Não há registros, mas as possibilidades de terem se conhecido é muita grande.

Os historiadores desatentos localizam a experiência sebastianista do Padre Felismino em Frei Paulo. Ele foi o vigário das Matas de Itabaiana, na localidade Chã do Jenipapo, entre 1881 e 1889.

A Villa de São Paulo só foi criada em 1890, ou seja, durante as pregações do Padre Felismino, não existia de forma autônoma, era um povoado de Itabaiana.

Em 1920, a Villa de São Paulo foi transformada na cidade de São Paulo. Em 1938, São Paulo passou a se chamar Frei Paulo, por conta de uma lei federal que não permitia a duplicidade de nomes. E São Paulo já existia.]

O Padre Felismino autointitulou-se “o pregador do fim do mundo”. O pároco liderou o movimento religioso caipira (integrado por trabalhadores rurais, donas de casa, letrados etc.) no agreste sergipano, no intervalo temporal de 1885-1890.

O Padre Felismino enquanto professava seu ministério junto à população do povoado da Chã do Jenipapo, nas Matas de Itabaiana, no período de 1881 a 1886, foi se desvirtuando do método adotado pela Igreja Católica Apostólica Romana e findou sendo denominada de “Seita dos Caipiras”, que trazia os fundamentos do Apocalipse e da Missão Abreviada.

Em decorrência, é intimado a comparecer à presença do seu superior, o arcebispo da Cúria Metropolitana da Bahia, fato que culminou com seu internamento no Asilo São João de Deus, um hospício psiquiátrico.

Houve uma resistência do clero local, sob a liderança do Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro. Em 1890, o padre Felismino foi convocado a comparecer na sede da Cúria Metropolitana, da Bahia, para um encontro pessoal com o Arcebispo Dom Antônio de Macedo Costa.

Esse fato culminou na prisão e internamento do Padre Felismino, no Asilo São João de Deus, na Bahia. Onde o pregador do fim do mundo continuou a se comunicar com os seus seguidores através de cartas.

“O Padre Felismino, antigo Vigário da freguesia de Frei Paulo, Sergipe, o qual, tendo enlouquecido, começou a pregar sobre o fim do mundo, iniciando uma seita baseada no Apocalipse e na ‘Missão Abreviada” - Carvalho Déda.

“O padre Felismino, ordenou-se presbítero da ordem de San-Pedro, virtuosíssimo e muito inteligente, foi o primeiro vigário da sergipana paróquia de San-Paulo. Em sua vida sacerdotal, sem mácula, pouco a pouco insidiosa moléstia mental atacou-lhe o cérebro e, sobe essa ação, sem que logo o apercebessem seus superiores, criou visionária religião entre os matutos das matas de Itabaiana, que foi chamada Seita dos Caipiras.” – Sebrão Sobrinho.

O Padre Felismino foi internado no Hospício San-João de Deus, na Baía, onde concluiu tristemente sua existência em dias do ano de 1892. A psiquiatria cumpria o seu papel.

“O padre Felismino era detentor de uma mediunidade, que se externava através da imposição das mãos sobre os doentes e da vidência. Contudo, seus métodos não foram aceitos pelas autoridades da província e as eclesiásticas, porque redundaram em pregar profecias e anunciar o fim do mundo, através de uma interpretação um tanto deturpada do livro Missão Abreviada e do livro Apocalipse.” – João da Santa.

Espero que esse registro chegue ao conhecimento do Papa Francisco, e o Vaticano inicie o processo de santificação do Padre Felismino, na mesma lógica, da justa santificação do “Padim Ciço”.

Minha mãe era devota do Padre Felismino (depois virou Crente) e leitora assídua da Missão Abreviada. Eu aprendi cedo, que o mundo ia se acabar pelo fogo, segundo o Padre Felismino. O dilúvio não resolveu.

Antonio Samarone – (médico sanitarista)

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