A DESIGUALDADE SOCIAL NÃO É DIVINA por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 16 de Setembro, 2022 - Atualizado em 16 de Setembro, 2022

 


Retóricas são louvadas e repetidas no Brasil. “O país do futuro. Aqui plantando tudo dá. Pátria do evangelho e coração do mundo. Abaixo da linha do equador não existe pecado. O celeiro do mundo”. Apologias ao país do futebol e do samba. De uma forma ou de outra, são alcunhas que remetem à identidade brasileira.

O Brasil detém os requisitos para ser uma potência mundial. Em passado recente estava entre as dez economias mais ricas do planeta. Não é fake news ser um país continental, geografia generosa, diversidade climática, abundância de água, costa oceânica, biodiversidade estratégica, sol tropical, energia limpa e terras férteis. Condições adequadas para cultivos, criações, inovação, comida e prosperidade.

A expressiva maioria da gente brasileira é identificada com a religiosidade cristã nas matrizes evangélicas, católica e espírita. O Brasil alberga múltiplas etnias e colorações raciais, a exemplo de árabes e judeus, brancos e negros. Cultura, ciência e arte, mitigada na essência da Nação por africanos, indígenas e europeus.

Óbvias questões arrebatam a imaginação dos brasileiros e brasileiras e
estimulam respostas: - outra nação foi abençoada com tantas dádivas da natureza? - porque esse país não cuida por igual de seus filhos naturais e adotivos? - qual a razão da abismal diferença entre os que possuem e os que nada tem?

Não pode ser naturalizada a extrema desigualdade social entre filhos de mesmos pais e igual divindade. Os aqui viventes, trafegam pelas vias cristãs em unidade do corpo e alma, como seres gregários e dependentes uns dos outros. A “vida social é natural e o sol brilha para todos. O isolamento é contrário à lei
natural, pois os humanos buscam a sociedade por instinto e devem todos concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente”.

 

Às perguntas levantadas, não cabe uma única resposta. Quando se despreza a complexidade, arrebenta na simplicidade. O tempo e a história, são
repostas comuns a todas elas. Para que os benefícios e consolos alcancem os reencarnados, torna-se imprescindível a mudança de comportamento no plano

individual na rota da regeneração coletiva. Não será fácil e nem rápido, a transição exigirá um longo percurso geracional para atingir o padrão civilizatório na geografia pátria.

 

Outras respostas, estão em mãos, corações e mentes das criaturas desse País, em particular os agentes públicos e representantes populares alojados nos poderes dos regimes democráticos. Nada mais divino, que servir ao próximo nas dimensões da dignidade humana, da justiça e do bem. Repúdio as mazelas mundanas, o engodo da boa-fé, os vícios e misérias. Inaceitável a abismal desigualdade entre os situados no topo e os na base da pirâmide da distribuição de riqueza. Não cabem inserções partidárias e polarizações, mas consensos humanistas, fraternos e solidários. “Quase 30% da renda do Brasil está concentrada em apenas 1% dos seus habitantes. A pobreza é uma forma de desigualdade”

Os cristãos que creem e compreendem, acolhem no viver o que disse Jesus Cristo pelo Apóstolo João: em vim para que todos tenham vida em abundância. Não é aceitável e nem justificável, o País dito como o celeiro do mundo, alimentar parte expressiva da população mundial e abandonar os seus trinta e três milhões de naturais em fome aguada e mais de cem milhões em insegurança alimentar.

Soluções existem além de bênçãos e misericórdias, mas no livre-arbítrio dos reencarnados na geografia verde e amarela. Tributação progressiva sobre bens e valores, aumento de impostos sobre herança, controle de evasão fiscal, investimento público em educação, saúde, inovação e proteção ambiental, ética, compaixão e piedade no viver em sociedade. Não são decisões divinas e sobrenaturais, mas humanas e exequíveis.

 

Ao final, para os cristãos-espíritas “a desigualdade das condições sociais não é uma lei natural, é obra do homem e não de Deus”.


Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado

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