DIÁLOGOS SOCIOLÓGICOS SOBRE AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 07 de Outubro, 2022 - Atualizado em 07 de Outubro, 2022

 


As eleições são expressões da democracia, da participação popular, do estado democrático de direito e dos valores iluministas. Elas não fomentam a discórdia, o ódio e a polarização insana, mas o debate sadio e prospectivo. Nesse sentido, reproduzo uns resumidos diálogos entre quatro intelectuais com robusta formação acadêmica em sociologia, experiência profissional e participação cidadã. Não são militantes políticos e nem possuem organicidade partidária. São acadêmicos experientes e com vivências nacionais e internacionais. Excluo as suas identidades para evitar exposições não- autorizadas e assumo individualmente os equívocos nas adaptações escritas.


Os fecundos diálogos, foram motivados seguindo os fundamentos da metodologia científica com a pergunta: qual o sentido dos resultados das eleições brasileiras de 2022?


Primeiro: “[...] Com realismo, entendo que o resultado dessas eleições foi
desastroso [...]. A política que nasce das urnas é ainda mais conservadora.
Causa uma certa perplexidade essa caminhada rumo as posturas políticas fundamentalistas e atrasadíssimas. Um dos vetores, sem dúvida, é o surgimento e o crescimento dos neopentecostais, fazendo desses negócios religiosos uma fortíssima via de impulsionar candidatos ultra conservadores. [...]. Lembro (muito bem) dos valores iluministas que me inspiraram a partir do final dos anos sessenta e, em especial, durante a década de 1970, já adulto e começando a trabalhar [...]. Tudo isso foi para o espaço”.


Segundo: “O elemento religioso, como outros ingredientes, exerce um papel importante porque esse é um fato novo na nossa história, sobretudo nesse século. O crescimento, relativamente rápido, dos neopentecostais, os quais já devem ser 35-40% daqueles que professam alguma religião e, sem dúvida, alguma, serão a maioria em 15-20 anos. Por que importante? Na minha opinião, por uma razão simples e fundante: o catolicismo brasileiro sempre foi "comunitário", desta forma abafando as iniciativas individuais, pois tudo sob tal religião segue "o grupo", "o coletivo". É por isso que falamos tanto em "comunidade". Não há lugar para as iniciativas individuais, inclusive porque remetendo "aos céus", a um lugar futuro e desconhecido a "salvação". Ora, tudo

isso é totalmente contrário aos preceitos fundamentais do protestantismo que embasa os neopentecostais, os quais valorizam a ação individual, a realização de fatos práticos, o concreto, o cotidiano e o sucesso de cada pessoa como a "prova da salvação".


Terceiro: “Um fenômeno que me parece evidenciar a aceitação da relação entre religião e alienação, a partir das considerações de Karl Marx. O neopentecostalíssimo pode ser tratado nessa direção. Busco na sociologia a explicação do fato (prefiro tratá-lo assim, não como um fenômeno). Não me parece errado a sociologia efetuar um incursão sobre o debate da religião como ‘mentora’ de uma filosofia político-partidária de escopo conservador, em amplo contexto. Retorno à Marx, Durkheim e Weber [os clássicos da sociologia] para discernir, com as grades analíticas dos tempos atuais (pós-materialismo? e pós- dialético?). As evidências e as trajetória que estão a definir os tipos e limites da alienação política, da cimentação social e da acumulação da riqueza. Um desafio para nós”.


Quarto: “O Brasil validou o conservadorismo. Não foram as surpresas da eleição de 2018. As razões são diversas. A crise da democracia representativa é a mais relevante e com as contingências de fora para dentro. A moral religiosa advinda dos ramos pentecostais, é outra razão relevante. A estrutura de classe social brasileira lastreada na escravidão e na exploração dos negros, pobres e desprotegidos, tem raízes históricas e permanentes. A sociedade está disposta a trocar a liberdade e a justiça social pelo autoritarismo, segurança, medo de um improvável comunismo e de perder os seus privilégios. No dizer de Jessé Souza, são as tensões e controles da ‘classe média branca’. Para Zygmunt Bauman a “modernidade líquida”. Quanto ás pesquisas [amostragens com previsões de erros, pois não são censos] não captaram as decisões dos eleitores indecisos na véspera da eleição. Como dizia o político e mineiro Tancredo Neves: “na hora de votar, o desejo do eleitor é trair”.

Ao final, a democracia embora agredida, está vencendo. Aguardar as evidências do breve segundo turno, para novos e conclusivos diálogos.


Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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