ELEIÇÃO SEM FIM por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 28 de Outubro, 2022 - Atualizado em 28 de Outubro, 2022

 

 

A festa da democracia continua no Brasil. Primeiro turno encerrado. Eleitos os representantes do povo, agente político do estado democrático de direito, para os poderes executivo e legislativoestaduais e federal. Acolhido sem retoques os resultados das eleições pelo transparente e inovadorprocesso eleitoral brasileiro: as urnas eletrônicas. Vencidos e vencedores contidos e respeitosos. Um exemplo a ser seguido.

A vez do segundo turno. Candidaturas em disputa ao poder executivo estadual, no entanto, amais aguardada, é a eleição do presidente da república. Lapso temporal de alguns dias, para reflexão e amadurecimento dos eleitores votarem com resiliência e responsabilidade. Escolha entre duas candidaturas opostas e vitoriosas no primeiro turno. Na pauta da campanha, temas que pareciam ser do passado medieval: intolerância religiosa, massacre dos povos originários e enfraquecimentode instituições do estado.

Preenchido sem contestação os rituais doregime, sistema e forma de governo na democracia representativa. República federativa constitucional presidencialista do Brasil. Independência e harmonia entre os poderes legislativo, executivo e judiciário.Voto popular e direto. Eleições livres e soberanas.Justiça eleitoral especializada por quase um século. Aperfeiçoamento das campanhas e dos agentes públicos. Legislação atualizada. Fiscalização nacional e internacional. Exemplo da participação popular numa das mais expressivas democraciasrepresentativas do Ocidente. No Brasil, o exercício do voto, não é um somente direito, é também dever. Os brasileiros alfabetizados, entre 18 e 70 anos, são obrigados a votar.

Óbvia conclusão: celebrar e aguardar em segundo turno, a eleição do presidente da república, a autoridade-mór do poder executivo no sistema de governo presidencialista. Motivos de sobra para louvar a jovial democracia brasileira. Ao contrário, a eleição brasileira não terminou. Os dois turnos são apenas as formalidades legais.  Registros na históriae na consciência, estão os golpes de estado e a ruptura da legalidade. O tempo de plena democracia entre nós, não alcança meio século. Ameaças e tensões continuam.

Comemorações bem-vindas, vigilância também. A democracia representativa nos moldes atuais está em crise. As agressões ultrapassam as fronteiras edeslocam os modelos alternativos de fora para dentro. Eles alcançaram o Brasil. No Velho Mundo, exemplos são fartos. As instabilidades democráticas, não acontecem por golpes de estados sanguinárioscom tanques de guerra, fuzis, baionetas, patas de cavalos e granadas, mas pela quebra de regras constitucionais por agentes políticos eleitos pelo voto popular. O próprio poder legislativo, representante do povo, em nome do comunismo, “servidãovoluntária”, valores e costumes, acatam o autoritarismo e o tradicionalismo como soluções para os problemas da humanidade.

Alguns discutem como ingredientes da morte da democracia representativa, outros como indicadores da geopolítica mundial, com novos atores edesprezo ao multilateralismo entre as Nações. Guerras por territórios, desobediência às resoluçõesda Organização das Nações Unidas - ONU, eexpansão da extrema direita, não são conjecturas, mas evidências em curso.  Fenômenos que haverão de merecer a atenção de estudiosos quanto as causas e consequências.  

O segundo turno das eleições para a presidente da república brasileira, expõe a crise da democracia representativa. As reflexões dos eleitores entre os turnos, não sofreram alterações substantivas. As escolhas continuam estáveis, como mostram as pesquisas eleitorais fidedignas. Polarização entre o bem e o mal, religiosidade católica e evangélica, algoritmos, fake news, armamento e agressões ao poder judiciário, são exemplos de que o Brasil está no caminho da metapolítica, que ao final não é o caminho seguro para o bem-estar, liberdade e alegria do povo brasileiro. O fim de uma eleiçãoainda estar por acontecer. Quem viver, verá.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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