O BRASIL E A NOVA IDENTIDADE RELIGIOSA (I) por Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho

Manoel Moacir, 25 de Novembro, 2022 - Atualizado em 25 de Novembro, 2022

 


A história não acabou, continua em movimento. Fatos assim comprovam. A atualidade revela premissas merecedoras de investigação. Religião, estado e sociedade são estruturas sociais relevantes. Não são ações inéditas, mas tradicionais e fartamente presentes no viver. Elas instigam a ciência para compreender os seus papéis e vinculações com a mudança social.

Os registros contemporâneos revelam a forçada religião, entendida como igreja, seitas e crenças, na definição dos padrões sociais da humanidade. A religião e o Estado na era medieval eram faces de um mesmo poder, normalmente marcado pela crueldade e violência no seu exercício. Unspoderosos pelas divindades, outros pela hereditariedade, mas todos ungidos pelo absolutismo autoritário. Na atualidade, em novas bases, as intolerâncias religiosas priorizam o ataque à democracia representativa. Diferentes regimes, sistemas e formas de governo manipulam a consciência dos fiéis em nome da salvação celestial. Renovadas estratégias de controle social, poder eprivilégios, pela via do voto direto e popular.

A questão básica, não quer dizer a quantidadede adeptos dessa ou daquela religião. O fundamental é compreender a abrangência de um fenômeno tradicional que surge com vigor numa era marcada pela inovação científica e o consumismo material. Razões existem. Algumas premissas são consensuais, a exemplo do movimento mundial de natureza política patrocinado pela extrema-direita. Os seus símbolos e táticas são similares aofascismo e nazismo, incluindo as pautas conservadoras dos costumes e o medo de um imaginário comunismo, que carregam a homofobia, a intolerância e a misoginia. No ambiente acadêmico tem sido abordado como o “novo radicalismo de direita”. As evidências comprovam a sua inserção na sociedade brasileira.

A nova identidade religiosa em suas práticas se afastam completamente da essência moral docristianismo e mais ainda da vida de Jesus Cristo. Verbo encarnado, filho do Criador do Mundo, fez da vida simples, o exemplo a ser seguido pelos pobres, desvalidos e excluídos da sociedade imperial do seu tempo. Os seus feitos pacíficos, mas de conteúdosrevolucionários marcaram a humanidade antes e após ele. Isso tem sentido e significado. Jesus, para os crentes, embora filho de Deus, do nascimento até a sua morte, numa passagem muito breve entre nós de apenas trinta e três anos, foi de afastamento do poder, da soberba, da riqueza, da luxuria e da avareza. Conspirou contra a riqueza e pregou a distribuição material com pregações e testemunhos: cartas, sermões, e parábolas. Não deixou uma igreja de pedra e tijolos, mas mensagens, profecias, parábolas e exemplos. Não cultuou o silêncio e nem a covardia, mas a coragem e o enfrentamento contraa opressão aos pobres e desvalidos de seu tempo, exemplos não faltam nos registros da história de sua curta passagem terrena.

Desde então, o conteúdo da mensagem de Jesus, falada e ampliada por seus discípulos,enfrentou impérios pelos poderes, carregados de preceitos éticos e morais. Tanto que em 1617 houve um grito de protesto bradado pelo monge alemão Martinho Lutero contra as práticas imorais correntes na Igreja Católica que afastando do Cristo vendiam desde indulgências e outras simonia até a apropriação de terras, desfrutes de bens das guerras de conquista, entre outros.

Com Lutero surgiram as confissões protestantes, derivações da Igreja Católica.  Hoje não são mais protestantes e sim evangélicos, os indenitários pentecostais. Mudança de nome e de conduta. Não resta dúvida que Lutero influenciou e foi influenciado por diferentes interesses econômicos e políticos. Um desses interesses se aquartelava nos monarcas dependerem da aprovação eclesiástica, fato que ainda hoje é percebido em países que usam as motivações religiosas para constituição de bancadas parlamentares eaprovação de projetos de interesses de suas igrejas.

Em verdade, alguns não são estados monárquicos, mas republicanos e modernos, porém ainda usam aquelas “sintonias medievais”, como acontece no Brasil onde a religião passa a ser “usada por aqueles com poder temporal para investi-los de autoridade” na perspectiva imediata da salvação.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel MalheirosTourinho, são professores e observadores analíticossociais.

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