O BRASIL E A NOVA IDENTIDADE RELIGIOSA (II) por Manoel Moacir Costa Macêdo & Manoel Malheiros Tourinho

Manoel Moacir, 02 de Dezembro, 2022 - Atualizado em 02 de Dezembro, 2022

 

 


O Brasil alberga uma população majoritariamente religiosa cristã. 87% dos brasileiros e brasileiras são crentes no cristianismo. A maioriaseguidora do catolicismo. Para alguns o país com maior crença católica no planeta. As recentes estatísticas mostram uma rápida expansão dos não católicos, os chamado evangélicos, do ramo neopentecostal.

Uma das premissas desse crescimento, pode ser à facilidade, ou mesmo as vantagens em abrir uma igreja evangélica. Essa notória expansão, tem sido evidenciada a partir da liberdade religiosa prescrita na Constituição Federal de 1988, que trouxe ao seu redor além dos sentidos da fé, os interesses mundanos, a exemplo do perdão dedébitos fiscais, até mesmo para Igrejas, e auxílios indiretos dos partidos políticos na via dos fundos partidários.

Similar realidade ocorreu na Inglaterra do Século XVII, quando a Igreja Anglicana era vista como um “partido político em oração”. No Brasil não tem sido diferente, com as denominações de “movimentos” neopentecostais, uma transformaçãopara os leigos das igrejas ditas pentecostais. Movimento de origem norte-americana, surgido com mais realce na década de setenta do Século XX. Para esse escrito, não quer dizer uma “Igreja”, mas um “movimento” versátil, dinâmico e transformadorna rasante dos costumes.

Quiçá um Deus e um Jesus Cristo, com renovados papéis. Maria, mãe de Jesus, não é acolhida na amplitude de seus ritos e práticas religiosas. Assim sendo, um movimento religioso apartado em essência dos ensinamentos e exemplos de Jesus Cristo, baseado na família, humildade, simplicidade e na opção pelos pobres e oprimidos, enfim numa revolucionária filosofia de “amar ao próximo como a si mesmo”. Um cristianismo, distinto da cultura de consumo pelo consumo, da teologia da prosperidade e da imediata salvação no plano material. Talvez seja uma prática social e não uma teologia conforme anunciado, na desestatização e na ruptura com os padrões do ascetismo cultural, comportamento religioso ideal, segundo escritos sobre as relações sociedade-religião, manifesto em Emile Durkheim, Karl Marx eMax Weber.

Dos clássicos da sociologia, Karl Marx é o mais crítico da religião como um reflexo da sociedade dominada pelas ideias da classe que detém o poder e usa a religião para manter os seus privilégioseconômicos, políticos e sociais sobre o povooprimido e a subalterna classe trabalhadora. Controle e alienação na práxis, podem ser evidenciados em recente artigo na web, por um acreditado cientista do ramo da biologia, vinculado auma referenciada organização de ciência, tecnologia e inovação, sobre as contradições entre política e religião em curso no Brasil: "Um imenso hospital psiquiátrico a céu aberto, como nunca se viu, milhares de pessoas em delírio, dizem coisas sem sentido, desconexas e mentirosas.  Elas saíram de um mundo que não se sabia existir e esperam por um salvador, um líder, ou qualquer coisa que lhes conforte e acalme a alma perturbada. Há uma curiosa identificação entre estes seres de todos os lugares. Eles têm dificuldades imensas em aceitar os outros como são (juízes, libertários, mestres, cientistas, especialistas, progressistas, filósofos, jornalistas, entre outros). Gritam por liberdade, divindade, família, propriedade e patriotismo reverberando o próprio grito, sem saber direito o que significam.  Ao dispensar a ciência e a filosofia e acreditar cegamente em alguma religião só sabem valorizar coisas unilaterais e práticas em suas vidas egoísticas.  Dado o grau de comprometimento e a distorção de suas visões de mundo transformaram-se em fundamentalistas.  Como não conseguem ver a si mesmos, transformaram-se naquilo que criticam e atribuem aos seus adversários.  Não temos ideia de que seja possível um esclarecimento em massa.  Por isso as pessoas de bom senso passaram a ter medo do futuro, porque eles são muitos e estão entre nós.  Um retrato do nosso Brasil."

Ao final, a separação entre Estado e Igreja com o advento perpétuo do estado laico ou” laicização do Estado” é a forma que os estados modernos adotam na vivência civilizatória. No Brasil, “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Predomina a total separação entre Igreja e Estado e o Estado laico. Embora previstos no seu dispositivo legal, aos poucos, estão sendo testados e esperamos que não sejam destruídos em nome de Deus.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho, são professores e observadores analíticos sociais.

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