INFLAÇÃO VERDE por Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 23 de Dezembro, 2022 - Atualizado em 23 de Dezembro, 2022

 


Na economia globalizada os eventos sociais, econômicos e políticos ocorridos em um país, interferem nos demais globalizados. O grau das consequências varia como sujeitos e coadjuvantes e como pobres e ricos, na lógica de “tudo interfere em tudo”. Na contemporaneidade, a economia mundial opera pelo poder dos blocos, entre outros arranjosdominados pelos países desenvolvidos. Algumasnações pobres, continuam à margem da globalização. Nesse contexto, a pandemia do Covid-19 impôs desafios globais. Globalização em crise. O Velho Mundo em conflito. Barreiras sanitários e “saúde única”. Guerra entre Rússia e Ucrânia.Restrições na cadeia de suprimentos e transporte. Escassez de fertilizantes. Limites no fornecimento de gás e petróleo. Volatilidade nos preços de energia e commodities. Inflação e preços dos alimentos em alta. Contingências que alteram a geopolítica e interferem no cotidiano da população mundial.  

O Novo Mundo não está isento da crise global. Nos EUA - Estados Unidos da América, a taxa de inflação está entre as mais altas desde os anos oitenta. O Pew Research Center assinalou que em trinta e sete das quarenta e quatro economias mais desenvolvidas, a taxa de inflação média anual no primeiro trimestre do ano em curso, foi o dobro do verificado no primeiro trimestre de 2020. No Brasil, não tem sido diferente. Erraram aqueles que consideraram a inflação um problema transitório, a ser combatido com receitas de curto prazo, notadamente com a elevação da taxa de juros. Umaminoria, considerou a inflação como estrutural.

Nessa perspectiva, à tendência da economia global é se tornar mais verde. O Banco Central Europeu, defende a “transição verde” como um fenômeno de pressão inflacionária. O mercado de capitais acolheu nas modelagens dos ativos a ESG – meio ambiente, sociabilidade e governança. Destaque para a transição energética dos combustíveis fósseis para fontes renováveis. Incremento da demanda por insumos minerais como níquel, lítio e cobre utilizados na produção de tecnologias verdes, acima da capacidade de produção. Veículos elétricos, consomem seis vezes mais minerais do que os seus equivalentes convencionais. Uma usina eólica requer mais de sete vezes a quantidade de cobre em comparação com uma usina a gás. Ambiente apropriado à inflação verde.

A passagem de uma economia movida por energia fóssil para uma economia de carbono neutroestá na pauta da sobrevivência da humanidade e dos fóruns de mudanças climáticas. A Guerra da Ucrânia, evidenciou a dependência europeia dos hidrocarbonetos russos. Cenário que insere oprotagonismo do Brasil no cenário mundial, noambiente de ‘inflação verde’. Mais de 80% da energia elétrica produzida pelo Brasil é renovável e dispõe de tecnologia e capacidade para expansão para energia de biomassa, a exemplo do álcool, biodiesel e outros óleos vegetais.

O emprego dos biocombustíveis no Brasil não é recente e até certo ponto um ineditismo como feito tecnológico, ambiental, econômico, social e político. A produção contou com a sinergia da sociedade e do Estado no desenvolvimento da produção agrícola adaptada ao clima e solo, aos ganhos da tecnologia industrial na produção eficiente. Tanto o PROÁLCOOL - Programa Nacional do Álcool,quanto o PNPB - Programa Nacional de Biogás e Biometano, responderam às metas estabelecidas, incluindo a redução dos impactos ambientais.

Nesse contexto, é difícil explicar as restriçõesao programa nacional de energia sustentável mais bem sucedido do mundo, incluindo uma tecnologia genuinamente verde. No mundo globalizado, as transações estão concentradas nas gigantes corporações transnacionais, que operam livre de fronteiras, mas sob pressão de lobbies na perspectiva da acumulação de poder e de capital. Com o potencial agrícola e industrial existente no Brasil, planejamento estratégico, abertura de mercado e internalização das questões ambientais, a tendência no curto prazo é o Brasil se firmar como líder na exportação de energia da biomassa. Ao final, cabe ao Estado brasileiro, organização com regalias e privilégios, construir políticas públicas e perenes de desenvolvimento verde, ainda que sejam inflacionárias. “A leitura do mundo, precede a leitura da palavra”.

 

Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos.

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