O QUE ACONTECE COM OS BRASILEIROS? por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 03 de Fevereiro, 2023 - Atualizado em 03 de Fevereiro, 2023

 

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Não é simples entender o comportamento da sociedade brasileira nessa quadra social. Desconhecer a sua complexidade levará à simplificação. A ciência debita ao estudo dasrelações humanas um rol de disciplinas e outras virão no movimento das transformações sociais. Estão em crise, os argumentos amparados no paradigma da comportada “ciência normal”. Outrosestão fora do senso comum, a exemplo do paradigma da pós-materialidade, uma “espiritualidade laica” no dizer do filósofo francês Luc Ferry.

No dominante positivismo do saber histórico, as sociedades foram construídas por disputas e sofrimentos humanos. Êxitos “a ferro e fogo”,contabilizados por conquistas de territórios, bens, honrarias e exploração de semelhantes.Humanismo, cultura, arte e ciência, foram exceções.O Homo sapiens, tradução do “homem sábio”, espécie superior da existência, não evoluiu porconsensos e harmonias, mas por genocídios, a exemplo do extermínio do Homo ergaster, o “homem trabalhador”. A evolução humana fugiu do pensar, cuidar e proteger e concentrou no guerrear, abater e destruir. Sanguinárias guerras e cruéis duelos entre humanos impuseram a superioridade e conquistasde riqueza e poder.

A identidade humana, agregou essas agruras àsperturbações atuais. Ódio, desigualdade, racismo, intolerância e indiferença encarnaram nos humanos. Todos nascidos simples e ignorantes, acessíveis aosvalores civilizatórios, mas apartados adiante. Reações e até rupturas aconteceram, mas ineficazes para alterar a essência do status quo.Rebeldia da “Primavera Árabe”, sufocada e silenciada. Inusitada Occupy, ofuscada pelas luzesde Wall street. Corajosos “Indignados” esquecidos no surrealismo de Guaudí. Manifestações brasileirasdas “ruas em disputa”, gestadas em armadilhasextemporâneas.

Crises econômicas, políticas, sociais, sanitárias e morais, sobrepostas e incapazes de arrombar os muros do atraso. A moral cristã majoritária na sociedade brasileira, não subverteu e nem freou os arroubos perversos, no País “abençoado por Deus, coração do mundo e pátria do evangelho”. O “jeitinho brasileiro”, escamoteia a legalidade santificada no “dando que se recebe”. Cientistas sociais em “ensaios da identidade social, nacionalidade e cultura”, não promoveram a “primavera tropical brasileira”. A “elite do atraso”apenas descreveu a profundidade da desigualdade e injustiça social. “Os linchamentos” de vulneráveis mostraram a crueldade da justiça com as próprias mãos. A “escravidão”, holocausto de nossa história,mistificada na utópica “democracia racial”. O “Cavaleiro da Esperança” profetizou o sonho de igualdade, mas não vingou. A contabilidade social brasileira, resultou no passivo da persistentedesigualdade, violência, racismo, indiferença ehipocrisia.

Contrato social em ruinas. Ameaças àsliberdades civis, apologia ao armamento, desprezo à coesão social, nojo a democracia e estímulo ao ódio. Destruição dos símbolos da liberdade e do estado democrático de direito. Como explicar esses fatos por brasileiros, ditos pacíficos, alegres, cristãos, miscigenados e tolerantes à diversidade? Não cabem respostas simples e nem precipitadas. Premissas existem. “Decorrência da nossa histórica complacência ou, de fato, muito mais a covardia de um povo que não sabe rebelar-se”. “As nossas transformações sociais e políticas não foram o resultado de grandes revoluções, mas de reformas que não comprometeram a tradição, ao contrário, garantiram a convivência entre o moderno e os modos de vida tradicionais”. A competência das elites em manter o consenso entre os desiguais. A falência das utopias, que muito prometeram e pouco entregaram. O tempo do “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, dirá se as respostas virão de fora para dentro, do despertar cívico das consciências ou da acomodação interna do Homo sapienstransgênico.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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