AGRICULTURA SERGIPANA NO CENSO E NO SÉCULO por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 10 de Fevereiro, 2023 - Atualizado em 10 de Fevereiro, 2023

 

 

Na agricultura sergipana, cinco culturas são destaques em área plantada e volume de produção: milho, laranja, coco-da-baía, mandioca e cana-de-açúcar. Nenhuma movimentação relevanteaconteceu nos últimos anos na estrutura agrária e em políticas públicas estruturantes, apesar dasubstituição da mão-de-obra por tratores e a consequente redução do emprego rural.

O Censo Agropecuário de 2017 repetido pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desde 1940, em sua síntese, trouxe informações relevantes ao planejamento e formulação depolíticas públicas. Somente 7,4% das propriedades rurais nordestinas recebem “assistência técnica” e 43% não usam nem o “preparo do solo”, prática elementar nos sistemas de produção agrícolas. Enquanto na região Sul, 48,6% das unidades rurais são “assistidas tecnicamente” e 66,5% “preparam o solo”, afora as abismais distâncias de acesso às informações virtuais numa economia globalizada. Um país dividido entre uma agricultura de subsistência e outra lastreada na ciência e noempreendedorismo dos agricultores. Quase 70% do crescimento da produção agropecuária brasileira é devido à tecnologia.

Um caso de destaque na agricultura sergipana,é o cultivo do milho na região do SEALBA, território produtivo delineado pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e acolhido pelo setor produtivo para os estados de Sergipe, Alagoas e Bahia. Com uma área plantada de aproximadamente 170 mil hectares, grão de importância econômica nas cadeias produtivas alimentares humana e animal e com efeito na geração de renda dos produtoresrurais. Capilaridade espacial no território nacional e dinâmicas regionais diferenciadas. Em Sergipe, predomina um polo de sucesso alavancado pela demanda externa no ciclo das commodities eintensificada pelo crescimento do mercado interno. Acultura do milho se mostrou dinâmica com aumento de produtividade, onde a média nordestina estáabaixo da sergipana, com tendência crescente deeficiência produtiva. Um exemplo de empreendedores rurais. Experiência endógena do setor produtivo.

O caso do milho, não se reproduziu nas demais culturas destacadas. A área cultivada com o coqueiro em Sergipe alcança os modestos 37 mil hectares, 10% do plantio nacional, em sua maioria na forma extrativista com o improdutivo “coqueiro gigante”, exclusivo para a produção de “coco seco”, distinto do “coqueiro anão”, produtivo, precoce e próprio à produção de “água”. A mandioca, permanece com limitada produtividade, e uma área plantada estagnada em menos de 20 mil hectares. Cultivo de subsistência, e mercado consumidor essencialmente “in natura”, ou de produtos processados com baixo valor agregado. O monocultivo da cana-de-açúcar abrange uma área plantada de 46 mil hectares, abaixo apenas domonocultivo do milho. Mercado oligopolizado por usinas de açúcar e álcool. Atividade histórica que ainda valora a “terra” na forma de arrendamento de rentistas. A laranja, outro monocultivo e único produto agrícola na pauta de exportação do Estado de Sergipe como “suco de laranja”, numa área plantada de 42 mil hectares, com baixo rendimento dos cultivos, carentes de tecnologia e inovação, apesar do crescimento da área plantada.

Destaque no referido Censo Agropecuário àprodução de leite na bacia leiteira sergipana daregião semiárida, com realce para o povoado de Santa Rosa do Ermírio. As evidências desses casos singulares, não foram ao acaso, exigiram no século passado, grande esforço de pesquisa, validação e difusão de tecnologia, por parte do setor público que assumiu a totalidade dos riscos da inovação. Não se nega no lapso temporal, nem o estoque de tecnologia, nem a infraestrutura estatal.

A realidade impõe muito mais do que elevar a produtividade total dos fatores, mas respeitar as exigências dos mercados por alimentos saudáveis, matérias-primas naturais, respeito ao meio ambiente, sistemas produtivos transparentes e responsáveis e a adoção de relações de produção amigáveis e justas. Novas estratégias de planejamento agropecuário, lastreadas nos riscos e prevenções sanitárias são requeridas com urgência.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

 

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