CIÊNCIA AGRÍCOLA E SEGURANÇA ALIMENTAR (I) por Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Cosa Macêdo

Manoel Moacir, 14 de Abril, 2023 - Atualizado em 14 de Abril, 2023

 


A agricultura é uma atividade marcante na história da humanidade. Ela é parte do ciclo daevolução humana. De início, os humanos prospectaram as espécies acessíveis àsobrevivência, a seguir, usaram técnicas para cultivar a terra, produzir alimentos e energia paraalimentar os trabalhadores e a revolução industrial.Nesse contexto, surgiram os excedentes e as trocas comerciais, ampliando o papel da agricultura nas atividades econômica e social. O cenário de fracasso da agricultura em ofertar alimento para uma população em crescimento geométrico, não foi confirmado. Ao contrário, a produção agrícola com o adjutório da ciência, ofertam comida suficiente para alimentar uma população de mais de oito bilhões de pessoas.

A ciência agrícola brasileira nas últimas décadas possibilitou uma safra de grãos prevista para o corrente ano de trezentos milhões de toneladas de grãos. Uma produção sem precedentes na história nacional. Destaque para a tecnologia como o fatorrelevante no processo produtivo. A terra e o trabalho não são os fatores estratégicos na produção e produtividade das lavouras e criações, mas as inovações nas versões biológicas, químicas,mecânicas e organizacionais. A fome de trinta e três milhões de brasileiros e brasileiras, é decorrente da enorme e persistente desigualdade social, impedindo os pobres de comprarem comida. A miséria da insegurança alimentar, alcança mais de cem milhões de nacionais.

De acordo com o relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutrição de 2022”, da ONU - Organização das Nações Unidas, o número de pessoas afetadas pela fome no mundo chegou a 828 milhões em 2021, um crescimento de 46 milhões de famintos em ralação a 2020. Mazela agravada pela pandemia da Covid-19 e pela guerra na Europa. Além dessa população com fome, 2,3 bilhões de pessoas, ou seja 29% da população global, estavam em insegurança alimentar em 2021. Outra gravidade anotada no referido relatório: 45 milhões de crianças menores de cinco anos sofriam definhamento, a forma mortal de desnutrição e risco de morte de crianças. Além disso, 149 milhões de crianças com similares idades, tiveram crescimento e desenvolvimento atrofiados devido a falta crônica de nutrientes essenciais em suas dietas.

A fome não é um pecado divino, mas causada pela concentração de renda em poucas mãos. Não se desconhece a redução da pobreza de 36% em 1990 para 10% em 2015. Em 2020, cerca trêsbilhões de pessoas não podiam pagar por uma dieta saudável, isto significou 112 milhões a mais que em 2019. Contingência agravada pela inflação nos preços dos alimentos decorrentes dos impactos econômicos da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Entre as alternativas para a produção de alimentos, o que cabe ao setor agropecuário, tem sido efetivado: produção de alimentos baratos. Ainda, carece de atender as externalidades, a exemplo da mudança climática, do desmatamento, da perda de biodiversidade estratégica e do uso abusivo de agrotóxicos. A trajetória produtiva da agricultura está em mudança, pelas ameaças à sobrevivência da humanidade e pressões de consumidores nacionais e estrangeiros por alimentos saudáveis e proteção ao meio ambiente. Aprodução agrícola em seu início, foi centrada no deslocamento da fronteira, pela expansão do uso da terra. Adiante, foi deslocada para a produtividade total dos fatores – PTF, a exemplo da irrigação einsumos intensivos em capital, advindos das inovações tecnológicas paridas nas organizações de ciência e tecnologia, no caso brasileiro, liderada pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Na atualidade, a prioridade é produzir com sustentabilidade e consumir com saúde. Para tanto, o modo de produção agrícola, exige mudança de rumos. A vez é a produção de alimentos em quantidade, qualidade, sadios, baratos, nutritivos e sustentáveis. A fome não é determinista, ela tem causa e cura.

Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Cosa Macêdo, são engenheiros agrônomos

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