CIÊNCIA AGRÍCOLA E SEGURANÇA ALIMENTAR (III) por Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 28 de Abril, 2023 - Atualizado em 28 de Abril, 2023

 


A produção agrícola brasileira antes dos anos setenta, estava lastreada na incorporação da terra, pela abertura de fronteiras agrícolas nos biomas. O crescimento das lavouras, trouxe tensões e externalidades ao meio ambiente e às pessoas. O modo de produção, atingiu com maior destaque o bioma da Mata Atlântica, apesar do Cerrado e do Pampa sofrerem intervenções humanas. A Amazônia e o Pantanal, nesse primeiro momento ficaram à margem da produção agropecuária.

Na Mata Atlântica, a intensificação da produção agrícola, levou à depredação ambiental e perda de biodiversidade. Externalidades foram evidentes, a exemplo da escassez hídrica, das ‘nuvens de poeira’, e contaminação da fauna e flora, a exemplo do mel produzido com traços de defensivos químicos. Problemas sanitários como o mal de Chagas e a febre-amarela foram evidências dos constrangimentos ambientais. O avanço da produção agrícola no bioma do Cerrado, foi posterior à Mata Atlântica. A expressiva produção de grãos, fibras e carnes e a intensificação tecnológica no Cerrado trouxe prejuízos à biodiversidade e a água. A ocupação desordenada e a consequente degradação dos solos, no berço das águas brasileiras, contribuiu para restrições hídricas nas regiões Sudeste, Nordeste e principalmente, no ciclo das águas no Pantanal.

O crescimento na produção mundial de alimentos teve como razão primária o deslocamento da fronteira agrícola. Em 2001 a área agrícola mundial chegou a 4.880.219 hectares, revertendo para 4.744.460 mil hectares em 2020. O uso de defensivos agrícolas aumentou significativamente, notadamente após 1990 quando cresceu a taxa de 1,5% ao ano. A incorporação de novas áreas e os insumos intensivos em capital, contribuíram para o aumento da produção de alimentos. A ocupação da terra aumentou a produção agrícola em 0,12% ao ano entre 1961 a 2020, por sua vez, o uso de fertilizantes sintéticos variou de 2,5% ao ano nos casos dos fertilizantes baseados em fosforo (P) e potássio (K), e até 4% ao ano no caso do nitrogênio (N). Além dos fertilizantes, o uso de defensivos agrícolas cresceu significativamente, notadamente após 1990 quando alcançou a taxa de 1,5% ao ano. 

O crescimento da produção agrícola, inicialmente devido ao deslocamento da fronteira, foi substituído nas décadas posteriores, pela Produtividade Total dos Fatores – PTF. Nas últimas três décadas, foram adotados pelos sistemas de produção a irrigação e as inovações biológicas, químicas, mecânicas e organizacionais. No período mais recente, entre 2011 a 2020, a ciência agrícola contribuiu para o PTF a uma taxa anual de 1,2%, respondendo por 58% do crescimento da produção agrícola. Os constrangimentos ambientais e os alimentos contaminados não estavam na prioridade do modo de produzir produtivista.

Ao final, na última década, apresar da redução da área agrícola cultivada, em menos 0,16% ao ano, por força da resultados da ciência, houve um acréscimo de 0,35% ao ano na produção de alimentos per capita, com destaque na produção global de commodities agrícolas, que cresceu a uma taxa média de 1,9% ao ano. Produzir sim, mas com sustentabilidade.

Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos

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