FOME E DESIGUALDADE O BRASIL (VI) Manoel Moacir Costa Macêdo & Pedro Abel Vieira

Manoel Moacir, 14 de Julho, 2023 - Atualizado em 14 de Julho, 2023

 

Foto: ilustrativa

 

 

Os programas sobre a fome na linha do tempo,não foram bem-sucedidos. Após recuos, ela retornou e acrescida da desnutrição. As causas da fome não estão associadas exclusivamente à falta de alimentos, mas às contingências sociais, políticas e econômicas.

O Índice de Produção Bruta de Alimentos per capita aumentou cerca de 50% entre 1960 a 2002, notadamente após a década de 1990. Esse índice cresceu de 80 em 1995 para 104 em 2021. Merece destaque nessa evolução o caso brasileiro, cujo aumento foi de 33 em 1961 para 55 em 1993, chegando a 107 em 2021.

A fome é multidimensional e dentre os principais fatores, destacam-se a desigualdade, a pobreza, os conflitos, as crises econômicas, a qualidade da nutrição e a má distribuição de alimentos. A fome vem ganhando uma nova dimensão, associada ao manejo inadequado da produção agropecuária, perante os recursos naturais e a mudança climática. São constantes e impiedosas as inundações, secas, ciclones e pandemia, entre outros intempéries da natureza.

Outros fenômenos relacionados à fome, são advindos da geopolítica, a exemplo da migração em escala sem precedentes. Populações são expulsas de seus territórios pela violência da guerra, intolerância étnica, religiosa e pela pobreza. Estima-se que existem mais de cem milhões de refugiados no mundo. A fome é uma moléstia humana, acostada agudamente nas populações pobres e vulneráveis.

A contradição sobre a fome está centrada na produção e no consumo de comida. Abundância de alimento e crescimento da fome. Os países de média e alta renda, enfrentam o problema da fome e da má nutrição. Realça o crescimento da obesidadede suas populações, de 12% para 13% entre 2012 e2016. Para os de baixa renda, o problema crucial é a fome aguda e a insegurança alimentar. As dietasrecomendadas pelas organizações de alimentação, saúde e nutrição, estão longe de serem cumpridas e não melhoraram na última década.

A ingestão de frutas e vegetais está cerca de 50% abaixo do considerado saudável e de leguminosas e nozes, com mais de dois terços aquém das duas recomendações diárias. Por outro lado, o consumo de bebidas açucaradas, que não são recomendadas, está aumentando. Os países de baixa renda têm a menor ingestão de alimentos essenciais para a saúde, e os mais altos níveis de baixo peso, enquanto os países de alta renda têm a maior ingestão de alimentos com alto impacto na saúde. Nos últimos sete anos, o consumo de alimentos açucarados e ultra processados na faixa etária de 2 a 19 anos superou 80%.

No caso do Brasil, quiçá uma exceção entre os países de renda média, a produção agropecuária oferta comida suficiente para alimentar a sua população, mas não eliminou a fome. A previsão deuma safra de mais de trezentos milhões de toneladas de grãos, vis-à-vis a fome de trinta e três milhões de brasileiros e brasileiras em fome aguda. A insegurança alimentar alcança quase metade da população e não têm acesso ao mínimo de três refeições diárias.

A natureza e a ciência estão prontas para auxiliar no combate a fome no Brasil, que superou a tragédia anunciada pela Lei de Malthus. A vez é do Estado redirecionar as políticas públicas ao amplo espectro da produção, distribuição e consumo sustentáveis de alimentos nutritivos, saudáveis e acessíveis à universalidade de sua população. Políticas de geração de emprego e renda e distribuição de riqueza são requeridas e indispensáveis. Nunca é demais repetir: existe fome, onde existe extrema desigualdade.

 

 

Foto: Manoel Moacir

Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira, são engenheiros agrônomos.

 

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