FOME E DESIGUALDADE NO BRASIL (VIII) Manoel Moacir Costa Macêdo & Pedro Abel Vieira

Manoel Moacir, 28 de Julho, 2023 - Atualizado em 28 de Julho, 2023

Foto: ilustrativa 


A fome no Brasil está superada pela via da produção. A tragédia da profecia de Malthus, não foi confirmada entre nós. A ciência e a natureza deram as suas contribuições. As safras recordes a cada ano, são suficientes para alimentar brasileiras e os brasileiros. A fome continua por razões políticas, daías dificuldades de superação.

Políticas de emprego, saúde e distribuição de renda são necessárias, as quais dependem de estratégias que atingem o sistema capitalistalastreado no lucro e na acumulação. Produzir e distribuir, exigem revisões e adequações políticas, econômicas e sociais. A lógica do modo de produçãoque sustenta a desigualdade, não sustenta a paz e harmonia. A sua equação não incorpora a solidariedade, a justiça social, e nem a cristandade dominante na sociedade brasileira.  

Algumas evidências são visíveis aos olhos e mentes dos comuns. Elas estão na produção agropecuária e fora dela, a exemplo da atual safra de mais trezentos milhões de toneladas de grãos, suficiente para as demandas dos nacionais, no entanto, uma parte significativa é comercializada na economia global como commodities agrícolas. A Ásia é o destino de 45% das exportações agrícolas brasileiras. As exportações agrícolas brasileiras representam 44 % das vendas externas brasileiras.

Estatísticas recentes, mostram que além da safra de grãos, a agricultura brasileira produz uma variedade de alimentos. 40 milhões de toneladas de frutas; 10 milhões de toneladas de hortaliças; 1 milhão de toneladas de castanhas, amêndoas, pinhões e nozes.O Brasil abateu 39 milhões de bovinos, 37 milhões de suínos 3,2 milhões de ovinos e caprinos e 6 bilhões de aves. Além de industrializar 338.000 toneladas de peixes e pescados, produz 35 bilhões de litros de leite por ano; mais de 4 bilhões de dúzias e ovos e 38 milhões de toneladas de mel. Uma usina de poder político e econômico.

Demonstrações inquestionáveis de que a fome é mantida por contingências políticas e morais. As extremidades entre a acumulação de riqueza em poucas mãos e pobreza em muitas, atingem padrões injustificáveis e vergonhosos para o iluminismo. Abismal distância entre os de cima e os de baixo, para um encontro civilizado entre povos de um mesmo território, embora distantes numa mesma Nação.

O Brasil possui 206 bilionários que, acumulam uma fortuna de mais de R$ 1,2 trilhão. Essesbilionários pagam proporcionalmente menos impostos que a classe média e os pobres. A riqueza das famílias brasileiras alcança em torno de R$ 16 trilhões de reais, e quase metade dessa riqueza, ou seja, R$ 8 trilhões, estão concentrados nas mãos de apenas 1 % das famílias. “1% da população brasileira, isto é, 2,1 milhões de pessoas, controla 49% de nossa riqueza e esse mesmo “1% teve rendimento 38,4 vezes maior que a média dos 50% com as menores remunerações”.

A fome não é um fenômeno biológico em si mesmo, ela é multidimensional. Carrega pobreza, miséria, violência, desigualdade e esperança. Elaconduz a instabilidade social. Quem tem fome, não tem medo e não tem nada. A vida depende de comida para viver.

Realidade posta. Diagnóstico conhecido. Soluções viáveis. A crença na mística de que “Deus é brasileiro” e que somos “o coração do mundo e a pátria do Evangelho”, detém um enorme risco para um País populoso e dito do futuro. O presente é agora e tem pressa.

Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira, são engenheiros agrônomos.

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