ANO NOVO por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 29 de Dezembro, 2023 - Atualizado em 29 de Dezembro, 2023

 


Cansei de Ano Novo. A cada final de ano a mesma frase. “Feliz e Próspero Ano Novo”. Sílabas pronunciadas por artificiais lábios. Vestir branco, orar e comer romã. Emoções superficiais ao som decânticos, moral religiosa e interesses. Desde o século passado, a mesma esperança de um “Ano Bom”, mas o que chega é um “Ano Diferente”. Máscaras escondem a fé profana e dogmática, marcadas pelo sinal da Santa Cruz.  

​Louvamos cada entrada de ano, comesperanças por anos melhores, mas, que nunca chegam. A fome aumenta, o desemprego também. A desigualdade alarga e com ela a injustiça. Privilégios esticam a concentração de riqueza.Repetição dos festejos, luzes, fogos e contagem entre o ano que vai e o que chega. Passados os minutos embriagados de champagne, buffet e aromas, tudo retorna, como antes. Esperanças não vertem em dias melhores. Pandemia, guerras, polarizações e ódio. Paradigma vigente em ruínas.

Cansei de “Feliz Ano Novo” na língua portuguesa e “Happy New Year” na inglesa. Mistura de religião e poder, construída no minoritário Velho Mundo - o mundo desenvolvido. Exportador de valores ao distante e majoritário mundo pobre. Diferenças entre mundos. Um é frio, outro é quente. Um é rico, outro é pobre. Um é velho, outro é novo. Um é explorador, outro é explorado.

Exploração imperial e milenar, concentradora deriqueza, que suporta o consumo e festividade deminorias desenvolvidas, a exemplo das festas de“passar de ano”. Ceia do clima temperado, recheadade chester, cheese cake e champagne, disseminada mundo afora. Aplausos comerciais do raiar do ano seguinte. Estratégias reproduzidas pelos barões do “Brasil Oficial”. No “Brasil Real”, trinta e três milhões não ceiam nem no primeiro e nem no último dia do ano. Os invisíveis do mundo pobre não comem nem a temperada e nem a tropical carne-de-sol, farofa e suco de laranja.

Anestesiados na passagem de anos, os tupiniquins, festejam que “Deus é brasileiro, e abaixo da linha do Equador não existe pecado”. No diaseguinte, retornam à realidade concreta, carentesdos elementares valores civilizatórios, a exemplo demoradia, comida, saúde, renda e trabalho. Dopados pelas cores, sons e bebedeiras dos festejos depoucos e de um único dia. No amanhecer do dia seguinte, suplicam a misericórdia dos deuses, a compaixão e piedade dos justos, como nos diaspassados.  

O “Ano Novo” será bem-vindo e saudado comesperançar de justiça social e paz. Jamais seránovo, o ano com a persistente desigualdade, entre os que muito têm e podem tudo, e os que nada têm e nada podem. Histórica e pétrea assimetria entre a “elite branca e a ralé brasileira”.

No dizer do poeta moçambicano, Mia Couto, “o tempo destrói todas embalagens. Invista no conteúdo”. Não importa que seja “ano novo, novo ano ou ano bom”, mas que seja ano justo, solidário e fraterno.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

 

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