JOÃO DE DEUS, PARA DEUS E EM DEUS

Por Jerônimo Peixoto

Jerônimo Nunes Peixoto, 19 de Outubro, 2023 - Atualizado em 19 de Outubro, 2023

          JOÃO DE DEUS PARA DEUS E EM DEUS

Recebi, com tristeza, a notícia da Páscoa definitiva de João de Deus, um grande luminar da cultura itabaianense, um devoto inveterado de Santo Antônio, Cultor das Letras, habilidoso com as palavras, conhecedor de quase todas elas, exímio Poeta e Escritor, ilustre Professor, Jurista, Advogado, Palestrante erudito e, acima de tudo, grande discípulo de Jesus Cristo.

Nascido no Povoado Zanguê, cuidou muito cedo de tomar gosto pelas letras, tornando-se a um só tempo aluno e professor. Enquanto aprendia, na escola da cidade, encarregou-se de ensinar aos amigos da vizinhança, demonstrando, destarte, sua inconfundível vocação de Docente inquestionável. Para ele, viver era transmitir conhecimentos, com terna leveza e com indizível retórica.

Seu velho Pai, Sr. Cícero, desejava ver um dos filhos padre e cuidou de encaminhar João de Deus para as coisas de Deus, começando pelo catecismo e, depois, tornando-o coroinha, aprendiz da Missa em Latim, para poder ajudar no serviço sagrado. o Menino aprendeu Latim, aprendeu a Missa, mas não se fez padre.

João, com o correr dos anos, ingressou no Colégio Salesiano, na condição de seminarista. Sendo de Deus, descobriu, com o tempo, que sua missão de servir a Jesus não seria necessariamente pelo sacerdócio, pelo qual tinha grande estima, mas, isso sim, pela intelectualidade, cultivando saberes para os partilhar com quem desejasse. E assim se fez Advogado, Filósofo, Professor. Fez-se biblioteca ambulante!

O Velho Murilo Braga, no alto de suas sete décadas, é testemunha viva da vivacidade vivida pelo grande Mestre que, nos bancos daquela casa do saber, descortinou, para a urbe serrana e para o mundo, incontáveis vultos da intelectualidade, nos mais variados segmentos. João de Deus era mesmo um sinal divino da sabedoria, da eloquência no falar, na capacidade de transmitir seus conhecimentos, sempre de uma forma tão didática  e suave que causava espécie.

Casou-se com uma douta professora, com quem partilhou a vida, as alegrias e as tristezas, em todos os momentos. Sua Lusa, professora da Última Flor do Lácio, certamente corroborou o invejável domínio gramatical do Sábio do Zanguê, a capital dos ceboleiros, como ele, hilariantemente, gostava de se referir ao seu torrão natal. Um outro dom era o da palhaçada. Onde se encontrava, fazia graças incontáveis! Com Lusa Mabel, partilhou de tudo isso...

De fato, por muito tempo afastou-se do Zanguê, para singrar novos mares, mas nunca deixou a cara Aldeia fora de seu foco, levando-a consigo a todos os cantos e recantos por que passou. E isso é tão verdadeiro que, tendo seus pais empreendido a grande Viagem, cuidou de permanecer com a propriedade, dando-lhe vida e cores, a fim de não lhe retirar os sabores partilhados, desde a mais tenra infância. Seu sítio tinha o cheiro de Seu Cícero!

Foi o amor ao Povoado Zanguê que o fez retornar ao solo que o viu nascer e o acolheu no chão da existência, selando-o com um amor eterno. E foi neste mesmo ambiente que se despediu deste mundo, levando para as moradas eternas um poço insondável de sabedoria que partilhou com todos com quem teve contato, sem, contudo, deixar-nos alheios e impedidos de beber em torrencial fonte.

Morreu um sábio, um intelectual sensível às letras, às melodias, ao arguto raciocínio, às leis, ao discurso retórico, ao serviço à Igreja, à amizade aos velhos companheiros de estrada. Permanecerá vivo o espírito aguerrido de um homem simples que venceu, porque se debruçou sobre cada tarefa como se fosse a última, esmerando-se com um inefável afinco, obstinado por sempre fazer o melhor, do melhor modo, no menor tempo possível. Era minuncioso, esmerado, quase perfeito! 

Estava sempre com um livro às mãos, indicando que o saber, à semelhança do bem, quanto mais se divide maior fica, iluminando e aquecendo as consciências que dele se aproximaram. No Murilo Braga, no Salesiano, na UFS, no Seminário Maior de Aracaju, na Casa da Providência, na Escola Vivencial do Cursilho, nos encontros culturais, nos acalorados debates filosóficos, nas rodas de conversa ou da boa música, mostrava-se admiravelmente rico em saber, em dons variados, sem ostentação, sem egocentrismo.

Era apressado, apavorado, porque queria nos dizer que o tempo urge, que tudo passa e que a hora de aprender, de fazer, de ser, de transmitir, de sentir é o AGORA. Dizia que estamos por aqui para, a qualquer momento, dizer até breve! E foi o que seu coração – marcado por tantas cruzes, envolto no manto da Paixão de Cristo – determinou na manhã de hoje: levou-o de volta a Deus!

João fez jus ao nome: JOÃO DE DEUS! Tendo vindo do Alto, para agraciar as plagas serranas e sergipanas com o seu admirável saber, apontou Deus, vivenciou Deus, transmitiu Deus e, merecidamente, entrou no Convívio Eterno, tornando-se em definitivo João de Deus em Deus! R.I.P

                                                       Com Estima e gratidão, 

                                                                                           Jerônimo Peixoto

                                      

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