VIRALATISMO OU ANALFABETISMO MESMO? (Ou para não citar Itabaiana?)

José de Almeida Bispo, 08 de Setembro, 2022 - Atualizado em 09 de Setembro, 2022

A morte da rainha Elizabeth II, sejamos sinceros está comovendo o mundo. Não seria pra menos: foi a monarca mais longeva na história britânica; nos seus 70 anos de reinado viveu os mais dramáticos momentos do reino, quando viu a situação de superpotência onde o sol não se punha desabar, restando à Coroa o mero lugar protocolar de chefia-de-estado, mas com o comando real dividido entre a poderosíssima banca inglesa e os vários primeiros ministros dos estados membros da Commonwealth; a perda de territórios ricos, como os do vice-reinado da Índia - hoje Índia, Paquistão, Bangladesh e Sri-Lanka - da Nigéria, África do Sul e Egito; e a perda de poder político interno, onde até serviu de gozação a certo banqueiro a desdenhar que ela podia ter a carinha impressa nas notas de libras esterlinas; mas quem controlava tudo era ele.
Enfrentou novidades políticas como as brigas no Parlamento. Com o grosseirão e pragmático Winston Churchill, Elizabeth se deu muito bem com ele, apesar de não vir da nobreza. Ao desbancar o nobre burocrata Neville Chamberlain, Churchill foi o primeiro a ver, antes de iniciar a Segunda Guerra que Hitler seria a desgraça europeia. Mas as transformações ainda estavam começando; e eis que o trabalhismo finalmente chegava ao poder. E Elizabeth teve que sentar-se com plebeus para discutir o império ou o que restou dele.
Sem rompantes de força fez o melhor reinado na história da ilha.

Desconhecimento: ignorância ou viralatismo
Numa matéria com aparência de “copy and past” o Uol publicou que, “Reis 'homônimos' a Charles 3º levaram períodos turbulentos à Inglaterra.”
Ao menos relativamente a Charles II eu acho que faltou discernimento, pesquisa histórica mínima, ao menos; mas também pode ter pesado doses como sempre cavalares de viralatismo, somente em suprimir que Charles II foi o cara que na prática criou o império inglês, que começou – e que o avô de Elizabeth, Jorge V alcançou em todo o esplendor – e que o fez em cima do enfraquecimento, fagocitando, comendo por dentro o império português.
De cara, a subida de Charles II ao trono 1660 foi seguida de um acordo matrimonial que o casou com uma filha de D. João IV, o restaurador, D Catarina Henriqueta de Bragança, em 1662; por cujo dote a Vila de Itabaiana (e as demais vilas e cidades do Brasil) pagaram o dote até meados do século XVIII. No acordo também entrou a África do Sul, ocupada pelos holandeses, mas oficialmente ainda colônia portuguesa; o entreposto comercial mais valioso da Índia, além de licença para o comércio inglês operar em toda a Índia; licença para Macau, na China; no Japão, em Nagasaki; Indonésia e Timor; enfim: Portugal deu a galinha dos ovos de ouro e ainda facultou aos ingleses os celeiros de ração, inclusive o maior e melhor de todos depois da Índia: o Brasil. Quarenta anos depois, começava a borbulhar ouro no Brasil - 1700 - quase todo levado para a Inglaterra a financiar a Revolução Industrial. Com muito pouco para Portugal e nada para o Brasil.
Do mesmo modo que a Grécia se fez em cima das trilhas comerciais dos fenícios, assim se fez a exuberância inglesa em cima de Portugal. Iniciada pra valer com o casamento de Charles II com a princesa portuguesa Catarina de Bragança. E o grande jornalismo nacional parece não conhecer a História ou a essa parte não dar a menor relevância.

Quanto a Itabaiana na história
D. Catarina teve um filho com o rei Charles II, depois de dois abortos espontâneos; mas... ele morreu ao nascer. Charles II morreu jovem, aos 54 anos, em 1685, sem deixar herdeiros, óbvio, assumindo a complicadíssima coroa inglesa um seu irmão.
A Coroa portuguesa não estava em melhor situação. Na verdade, reinou durante quase vinte anos como regente a rainha consorte, D. Luíza de Gusmão. Foi dela a ordem para não destruírem Sergipe depois da Rebelião dos Curraleiros e das prisões e condenações em massa dos criadores de gado, depois de 1656, especialmente dos de Itabaiana.
Em março de 1692 D Catarina despediu-se para sempre da fria e inóspita Londres e retornou a Portugal. O transportador dela, dentro da Espanha no trajeto português até sua quinta foi João Manuel do Cabo. Que por esse serviço especial foi premiado em 16 de junho de 1700 com a nomeação como primeiro tabelião do Segundo Ofício de Itabaiana, ou o conhecido cartório de Maria Helena ou Zeca Mesquita.
Como a História é ramificada.
Que o artigo do Uol não trouxesse, isso sobre Itabaiana, está claro; é somente um desdobramento. Mas, desconhecer a grandeza do reinado de Charles II e sua intima relação com o Brasil via Portugal soa estranho.

Em tempo: escusas pela correção do texto. O foi para torná-lo mais claro. Obrigado.

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