EPPUR SE MUOVE, COMO DISSE GALILEU(*).

José de Almeida Bispo, 15 de Julho, 2023

Nasci, cresci e fiquei adulto sem ouvir sequer a citação nome Zé Bezerra. De fato, vim ouvir o seu nome já pelos quarenta de idade, rapidamente, mais menos por volta de 2000, quando escrevia para a Revista Perfil. Era-me um completo desconhecido.
Só em 1975 é que comecei a me integrar à vida urbana, a começar do seu segundo maior centro de integração social, à época, o Colégio Estadual Murilo Braga. O primeiro era a velha Matriz de Santo Antônio, que estava, assim como a cidade que ela mesma gerou, completando 300 anos.
Entre 1969 e o mesmo 1975 houve regularidade na cobertura jornalística local de Itabaiana e sua sociedade, através de O Serrano; contudo, Zé Bezerra, nunca bem aceito pela sociedade itabaianense, salvo por uns poucos, já havia falecido, em 18 de novembro de 1967, sem nenhuma comoção na sociedade, conservadoríssima e ainda chocada com outro assassinato, então recente, o do ex-prefeito e ex-deputado e chefe pessidista, Manoel Francisco Teles, em 31 de agosto, dois meses e meio antes.
Em 2 de fevereiro de 2013, houve a assembleia de fundação da Academia Itabaianense de Letras, e a multiartista – inclusive cronista – Antônia Amorosa de Menezes tomou posse como ocupante da Cadeira 18 daquela Arcádia, tendo como patrono o grande ator e dramaturgo itabaianense José Bezerra. Fora ele escolhido entre vários nomes pela comissão criadora da Academia, que a ele não se referiu na primeira reunião pro-fundação, de julho de 2012; contudo, o incluindo em reuniões posteriores. Estava finalmente revivida a memória de um desbravador; até 1967, ano da sua morte, Único nome de reconhecimento popular nacional, assumidamente de Itabaiana.
Em maio de 2014 teve lugar a segunda solenidade, a recepção, de Amorosa na Cadeira 18, e, a seguir, certo dia ao passar pelo estacionamento do Estádio Etelvino Mendonça, veio-me a ideia: “E se o Governo do Estado construísse ali um teatro, com estrutura para um estacionamento, de uso duplo – do Estádio, quando em jogo; do teatro, ou para renda de manutenção do mesmo?”
Ao retornar para casa, fiz o tosco desenho que acompanha esse artigo. E o esqueci, a seguir.

Fui surpreendido, entre esperançoso e pés fincados no chão, pela revelação, não de iniciativa do Governo do Estado, como anteriormente pensei; mas do Secretário Municipal de Cultura, meu também confrade na Academia Itabaianense de Letras, Antônio Samarone de Santana, que em artigo publicou que, não somente é intenção do Prefeito Municipal, Adailton Souza, como já há projeto arquitetônico em andamento, para a construção de um teatro em Itabaiana.
Se o teatro, caso seja construído, terá o nome sugerido de Zé Bezerra, como há oito anos por mim sugerido, não sei; mas que é firme a intenção de construí-lo, isso é.
Torçamos.
Torçamos, inclusive, para não vir futuramente a ter o mesmo destino do outro, que nem registro ficou, além dos indícios captados por Robério Santos e, objetivamente a prova cabal pela pena do historiador lagartense, Laudelino Freire, que em 1902 registrou a presença de um teatro na cidade (**). A pequenina Itabaiana, então de menos de dois mil habitantes, metade deles que só vinham à cidade no sábado. Para a feira; e retornando aos seus sítios, bem mais confortáveis, aos domingos, depois da missa na Matriz de Santo Antônio, então, único prédio realmente decente na cidade. 


(*) Expressão que denota teimosia; persistência. De alguém que, mesmo obrigado pelas circunstâncias nega uma ideia ou dela desiste, mas sempre parcialmente. Proferida por Galileu Galilei quando condenado por prepotentes burocratas empoderados da Igreja, durante seu julgamento pela Inquisição. Ao fim Galileu abjura da certeza de que o sol é o centro do sistema, mas termina com essa frase, não perguntada: “No entanto se move!” Ou seja, no entanto acaba funcionando; acontecendo.
(*) FREIRE, Laudelino. Quadro Chorographico de Sergipe, p.114. H. Garnier, livreiro-editor. Rua do Ouvidor, 71, Rio de Janeiro - Rua des Saints-Pères, 6, Paris. 1902.

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