RESQUÍCIOS COLLORIDOS.

E a Dengue voltou para sempre. E mortalmente de verdade.

José de Almeida Bispo, 09 de Agosto, 2023

“E não adianta nem me dedetizar (...)
porque ‘cê mata uma e vem outra em meu lugar”
(Seixas e Coelho – Mosca na Sopa)

Governo Sarney foi aquele vexame. Dívidas acumuladas dos governos burocráticos militares explodiram na democracia da Abertura, a partir de 1978, saindo completamente de controle depois do Plano Cruzado, em 1986, este feito para eleger o esquemão do Governo. Em março de 1990, até o dia 15, a inflação no mês projetou estratosféricos 93%; não confirmada porque Fernando Collor assumiu no sobredito dia 15 de março, e decretou o Plano Collor, com confisco da Poupança etc., e etc..
Até o início de 1989, a máquina pública federal de controle de endemias e doenças transmissíveis em geral se manteve dentro do satisfatório, máxime executada pela SUCAM em praticamente todo um território nacional, de transporte quase todo integrado, logo circulação de pessoas e outros vetores de doenças.
Em fins de 1989, pós-Constituição; ano de substituição no comando máximo do país, incertezas quanto ao futuro da administração da Saúde, a coisa foi afrouxada.
Em 1990, no Governo Collor, dois fatores de alta periculosidade entraram em campo, relativamente à vigilância epidemiológica: a desconstrução - sempre rápida, como toda demolição - da tecnologia de bloqueio, a duras penas desenvolvida e mantida; e a avalanche ideológica da discurseira neo-liberal, em substituição atabalhoada, descoordenada e miseravelmente instrumentada – com falta geral de insumos, inclusive humanos – sem nenhum critério, exceto o de repartição do bolo das verbas e do tempo de mídia pela politicagem... liquidou a fatura.
Foi um desastre.
Começou com uma campanha de marketing, dos agentes políticos, querendo faturar em cima de uma suposta epidemia de cólera, que, mesmo pessoas da saúde não entenderam o porquê daquela histeria.
Alguém deve ter recobrado a memória dos reais e terríveis surtos de cólera, do início da segunda metade do século XIX. Então, duas epidemias de cólera – 1855 e 1863 - devastaram, especialmente o Norte e Nordeste; em alguns estados reduzindo sua população livre e escrava em mais de 40%, mudando definitivamente o eixo econômico do país para o sul.
Bem, mas em 1990, a cólera só serviu para gerar dúvidas sobre honestidade do Governo central.
Mas a Dengue voltou para sempre. E mortalmente de verdade.
Mosquito não respeita fronteiras humanas, e, como é combatido – ou não – em cada município, nunca mais nesses mais de 20 anos ficamos sem a presença do Aedes egyptii e suas perninhas botafoguenses, de listrinhas preto e branco a nos rondar.
Mata o mosquito em Itabaiana? O transporte dinâmico cuida de transportar mais; repor os mosquitos defuntos. E assim é em todo o Brasil.
Detalhe: o Aedes egyptii, transmissor da dengue havia desaparecido do Brasil desde a década de 60, pelo intenso, constante e coordenado trabalho do antigo DNERu, depois rebatizado de SUCAM.
Hoje pela manhã acordei com as equipes da Secretaria Municipal de Saúde de Itabaiana aplicando inseticida com seu caro-fumacê no entorno de onde moro. Um inglório trabalho de tentar manter a cidade sadia, mesmo sob alta toxidade. Inglório porque os milhares de cargas, veículos e objetos em geral que chegam ao município trazem milhões de ovinhos microscópicos, boa parte deles já com os vírus, que eclodirão e recomeçarão de novo, e de novo, e de novo.
E assim caminha a humanidade.

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