8 DE JANEIRO DE 2023: O DIA DA INJÚRIA

Carlos Braz, 19 de Janeiro, 2023 - Atualizado em 19 de Janeiro, 2023

 8 DE JANEIRO DE 2023: O DIA DA INJÚRIA 

Por Carlos Braz

 

O Brasil vivenciou no dia 08 de janeiro de 2023 o momento mais crítico de sua conturbada história republicana, já golpeada duramente durante os quinze anos de ditadura do governo Vargas, complementada pelo golpe militar de 1964, que arquitetou uma organização estatal criminosa e repressiva, cuja ação nos deixou um legado de feridas abertas até os dias de hoje.

Nesse dia que denomino de “Dia da Injúria”, milhares de manifestantes auto denominados de patriotas, adentraram à Praça dos três poderes em Brasília, invadiram os prédios do Palácio da Alvorada, do Congresso Nacional e do Superior Tribunal Federal,  destruindo o que encontraram pela frente, alegando, sem provas, fraudes na eleição concluídas em 30 de outubro de 2022, que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente da República, e clamando por uma intervenção militar, que convocasse um novo pleito, atropelando as leis vigentes.

Como cidadão e professor de história não poderia deixar de emitir meu humilde comentário sobre o ocorrido, certo de que, como acontece com todos que expõem suas ideias publicamente, o mesmo será alvo de críticas e, improvavelmente, algum elogio. Só posso afirmar que fui testemunha de um momento histórico da nossa história contemporânea, que em breve será relatado em livros didáticos, e objeto de teses e pesquisas no âmbito das ciências sociais.

Inquestionavelmente, o grande responsável por tamanha ilegalidade foi o agora ex-presidente Jair Bolsonaro e seus comparsas no âmbito parlamentar e militar.  Como estratégia, despertou o viés historicamente golpista das nossas forças armadas. Alocou milhares de militares em cargos bem remunerados, agradando-os com mordomias, garantindo dos mesmos o apoio em sua cruzada insana contra o sistema eleitoral e autoridades constituídas. Perder a eleição significava perder seus empregos.

As cenas de pura barbárie e vandalismo, consideradas como terrorismo, foram fartamente registradas pelos órgãos midiáticos e pelos próprios criminosos, confiantes na impunidade advinda de ações protetivas patrocinadas por parte de militares federais e distritais, visivelmente omissos no cumprimento de seus deveres. 

Desde o primeiro dia do seu mandato Jair atacou as instituições e adotou o modelo visivelmente fascista como tática de convencimento e coerção, que arrebanhou milhares de simpatizantes que por pouco não o levaram à reeleição.

Por outro lado, agentes invisíveis e outros nem tanto, emergiram de todos os poros da sociedade civil, que passou a viver em constante estado de conflito ideológico. Nesse contexto, as redes sociais exerceram um papel importantíssimo, divulgando notícias falsas diuturnamente, alimentando o imaginário dos incautos com um discurso de ódio e a existência de um complô no Poder Judiciário com vistas a eleger o candidato petista.

 Os quatro anos de doutrinação contínua resultaram na deformação do conceito de liberdade de expressão, bem como da interpretação errônea de artigos da Carta Magna. É relevante neste período a degradação moral da doutrina evangélica, sob o comando de pastores venais e interesseiros, que transformaram os templos em curral eleitoral, bem como o poder cada vez maior do grupo político conhecido como Centrão, que assumiu o controle das verbas federais, usando-as para conseguir apoio e consequentemente votos para a causa bolsonarista.

Ressalto ainda o envolvimento dos barões do agronegócio que financiaram a empreitada criminosa, bem como de profissionais liberais bem-sucedidos, professores, empresários de diversos ramos comerciais, pessoas esclarecidas que se deixaram levar como gado no estouro da boiada, ou devotos de uma seita de psicóticos. Traidores da pátria que se uniram a párias sociais, traficantes, assassinos e aproveitadores de toda espécie. Esses personagens, asseguraram seus lugares no lixo da história e o nosso eterno repúdio. Que a força da lei se abata inapelavelmente sobre eles.

Um plano perfeito que não contava com a existência de homens de honra,  compromissados com o juramento feito de estarem ao lado da lei. São eles os grandes heróis desse domingo onde a democracia e o fascismo duelaram ante os olhos do mundo. Foram eles que corajosamente enfrentaram os revoltosos, conseguindo com muito esforço estabelecer condições necessárias para o  controle da situação e a prisão de mais de mil manifestantes, estabelecendo o fim do caos.

O poder Judiciário, personificado na figura emblemática do ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Morais, apoiado por seus pares, é, sem dúvida, o protagonista da defesa do Estado Democrático de Direito. Não temeram as ameaças e exerceram com hombridade e louvor o papel que lhes foram designados pela constituição. A democracia sobreviveu mais uma vez, ante aqueles que ousaram deitar por terra o sonho republicano de 1889.

 Contudo, não nos iludamos. O germe da perfídia continuará vivo nos corações e mentes atrofiados pela ambição do poder e do arbítrio. A trama antidemocrática agora derrotada, continuará a ser trançada pelos seus artífices, abancados no parlamento, no breu das tocas e nos quarteis. A cabeça da serpente foi decepada e cabe aos homens da lei vigiar e punir para que de seus ovos não surjam remanescentes do mal, e que a anistia concedida aos militares de 64 não seja regra.

Já vivemos tempos sombrios dos quais não temos saudade. Cabe agora a quem de direito, punir os que cometeram crimes. Já nós, cidadãos de bem, conscientes do nosso seu papel de sujeitos históricos, deveremos ser os construtores de uma sociedade onde impere justiça social, igualdade para todos, paz, harmonia e prosperidade.

 

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