Memória Cultural da Villa de Santo Antonio e Almas. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 04 de Maio, 2024

Os Matapoam (Itabaiana) eram Tupis, expulsos do litoral ou uma sub tribo dos Tapuias (Cariris)? Não sei! Foi nessa terra, que João José de Oliveira (1829 – 1899) veio morar, quando chegou de Portugal, em 1849, para exercer o nobre ofício de ferreiro.

 

João José sabia ler e escrever, casou-se com Maria Pastora do Sacramento (a mameluca Nananhana), de uma aldeia de Itaporanga.

Tiveram 12 filhos, conhecidos como os “ferreiros” de Itabaiana. Juntos aos fogueteiros, sapateiros, pedreiros, padeiros, marceneiros e alfaiates, compunham as profissões dominantes. Uma terra de camponeses e artesões.

Ouvi falar dos filhos de João José: Bernardino (meu bisavô); Tertuliano; Antonio Joaquim; Josefa Maria (Nanã), mãe de Felismino Fogueteiro; José Francisco; Francisco Antonio (acho que avô de Átalo); Quirino José; Benvindo Francisco; Marianda; Felismino (Nonô), pai de João Marcelo; José Oliveira e Joana Maria.

Em 1926, o meu bisavô, Bernardinho, foi atropelado em cima de um burro, por um trem desgovernado, no povoado Caititu, numa segunda-feira, quando ia comprar ferro em Maruim. Uma morte trágica.

A instituição social que possibilitou a formação do povo brasileiro foi o cunhadismo, velho uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade. Consistia em lhes dar uma moça índia como esposa. Assim que ele a assumisse, estabelecia, automaticamente, mil laços que o aparentavam com todos os membros do grupo.

Por parte de pai, descendo de Ascendino José de Santana, filho de Genoveva, natural da Galícia, e de Josina Francisca Teles, negra, filha de escravizada.

Portanto, declaro-me mestiço de quatro costado.

Descendo de trabalhadores rurais sem-terra, trabalhadores avulsos (pataqueiros), arrendatários, que beiravam a produção agrícola e viviam na mais profunda pobreza. A parte fidalga dessa gente, eram os ferreiros.

Hoje a realidade econômica de Itabaiana é outra, com uma presença marcante da classe média.

A classe média aracajuana é formada, sobretudo, por agentes sociais que se valem dos conhecimentos científicos, filosóficos, artísticos e religiosos como forma de existência.

São professores, funcionários públicos, médicos, advogados, engenheiros, entre outras profissões ditas liberais. Todo o judiciário e o estamento militar. A renda é desigual, mas a pose é a mesma.

Em Itabaiana, a classe média é formada por pequenos burgueses, camponeses em ascensão a uma burguesia mercantil, com renda suficiente para um consumo de luxo e novos investimentos. Uma parcela dos ricos, que ainda não pertence a grande burguesia nacional, dominada pelo capital financeiro. Esse capital, procura formas sustentáveis de investimento.

A classe média de Itabaiana é diferente. Claro, composta também por togados e barnabés, mas em minoria. Majoritariamente, ela é empresarial.

O espirito empreendedor do Itabaianense é anterior a hegemonia Neoliberal. Lá, o empreendedorismo é bem mais que uma ideologia, é um modo de vida. Já se nasce querendo ganhar dinheiro. Cada um é dono do saco de castanha que revende. Talvez seja o segredo do seu desenvolvimento.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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