A cura homeopática da imortalidade. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 14 de Abril, 2022

 

 

 

A aceitação das ideias de Hahnemann (homeopatia) no Brasil foram facilitadas por belas histórias. Machado de Assis conta uma, em seu conto “o Imortal”
.
O protagonista da história de Machado é o homeopata Dr. Leão. O médico conta que o seu pai, Rui de Leão (Rui Garcia de Meireles e Castro Azevedo de Leão), nasceu em 1.600. Como a história é contada em 1855, o pai do doutor tinha se tornado imortal, vivido mais de duzentos anos.

O que conta o médico homeopata sobre o seu pai?

O velho Rui de Leão vivia em um convento franciscano, em Recife. Com a chegada dos holandeses, o velho fugiu sem rumo, indo parar numa tribo indígena. O velho caiu nas graças do pajé, que no leito da morte, presenteou Rui de Leão com uma garrafada, um elixir da longa vida, que conferia a imortalidade a quem a bebesse.

E porque o senhor não bebe, o velho perguntou ao índio. O Pajé acentuou, eu não bebo porque quero morrer, estou cansado, já vi muitas luas, quero descansar na terra.

O velho Rui aceitou o mimo por educação, mas sem acreditar na ciência do Xamã.

Com o tempo, o velho Rui adoeceu e, já desenganado pelos curandeiros, lembrou-se do elixir que ele tinha guardado. Não tenho mais nada a perder, vou arriscar: tomou a metade da garrafa do elixir do Pajé.

Para surpresa, o velho Rui se levantou do leito da morte e a vida já se arrastava por mais de 200 anos. O elixir teve a eficácia confirmada.

Rui aproveitou a sua longa vida, viajou muito, aprendeu vários idiomas, viu a guerra dos Palmares, a revolução francesa, a chegada da Família Real, sobreviveu a tiros e facadas, trabalhou em diversos ofícios.

Como a vida eterna cobra um preço, Rui de Leão ficou sozinho, amargurado, ao ver morrer todos os amigos, e por saber que seria assim pela eternidade. Rui de Leão começou a cobrar do filho, médico homeopata, um tratamento para a imortalidade.

A alma de meu pai chegara a um grau de profunda melancolia. Nada o contentava; nem o sabor da glória, nem o sabor do perigo, nem o do amor. Vegetava consigo; triste, impaciente, enjoado. Rui de Leão queria morrer.

Um parêntese: claro que “A Intermitência da Morte”, clássico de Saramago, não é plagio, mas que ele leu antes o conto de Machado de Assis, leu. O enredo é o mesmo.

O homeopata Dr. Leão, filho do imortal, começou a estudar um remédio para curar a imortalidade do velho Pai.

O Dr. Leão revisou a doutrina de Hahnemman em profundidade. A solução encontrava-se no princípio central da homeopatia: “Similia similibus curantur” – Semelhante cura o semelhante. O homeopata encontrou o remédio para o velho imortal.

O senhor guardou o resto do elixir do Pajé que não tomou? O velho continuava com boa memória. Guardei e sei onde está, respondeu o imortal. Então tome! O elixir que sobrou é semelhante a metade que o senhor tomou. A primeira metade lhe deu a imortalidade, a segunda metade lhe tira.

Dito e feito. O semelhante curou o semelhante, e em poucos dias o velho imortal bateu as botas.

Machado de Assis contou a história da psiquiatria no conto o “Alienista” (esse bem conhecido), e a história da homeopatia no conto “O Imortal” (menos divulgado).

Quem quiser ler o conto de Machado de Assis (está no domínio público), vai conhecer os detalhes dessa história maravilhosa da homeopatia. Quem tiver preguiça ou não gostar de ler, já ficou sabendo.

*Antonio Samarone. (médico sanitarista)*

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