A peregrinação de Divina Pastora. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 17 de Outubro, 2022



 

A terra de Fausto Cardoso realiza no terceiro domingo de outubro a sua peregrinação. Uma multidão de curiosos, hereges e alguns devotos, partem a pé de Riachuelo, subindo uma colina de 11 km. A tradição foi criada em 1958, pelo Arcebispo Luciano Duarte, para catequizar os estudantes universitários.

Divina Pastora, antiga Freguesia de Ladeira, nasceu dos currais de gado dos tempos dos holandeses. Divina Pastora foi desmembrada das freguesias de Jesus, Maria, José do Pé do Banco (Siriri) e de Cambuatá (Santa Rosa de Lima).

Ontem, eu resolvi ir conhecer a peregrinação de Divina Pastora.

A pequena cidade se transforma numa feirinha do Paraguai, num mercado de bugigangas, ambulantes vendendo de panelas a travesseiros, tamboretes, lembranças religiosas, comidas típicas, um elevado para se pagar as promessas e acender as velas, um palco para as missas, e uma igreja barroca de 270 anos, mal conservada.

Essas peregrinações são populares em Sergipe, gente humilde, o povo adora. Não vi os católicos de classe média, muito menos os ricos. Constatei o “porquê” Cristo considera os pobres bem-aventurados. Tenho certeza de que o Paraíso será deles.

Os peregrinos cantavam alegremente: “quando Jesus chegar, quando Jesus chegar...”

Multidões imensas amoitadas debaixo das mangueiras centenárias, fazendo os seus “pic nic!” sertanejos. As famílias levam a farofa e a jabá, o macarrão e a carne frita, o feijão e o toucinho. As marmitas improvidas são vasilhames usados de margarina. A água e a cerveja vão de isopor.

Muita farra e pouca reza!

Os devotos da Divina Pastora ficam zanzando, rua acima, rua abaixo, numa tropelia desenfreada. Comprando as novidades a preço de banana. Uma blusa não passa de cinco contos de reis. Um tamborete é dez.

A devoção a Divina Pastora nasceu em Servilha, na Espanha. Chegou a Sergipe durante a União Ibérica. A veneração a Nossa Senhora Divina Pastora também ocorre em Cantillana, Málaga e Cádiz.

Na América Latina a santa é adorada e tem muitos devotos na Venezuela. Aqui perto, em Alagoas, a Divina Pastora é padroeira da cidade de Junqueiro.

O que posso dizer é que a igreja católica só volta a crescer e disputar o mercado da salvação com a “teologia da prosperidade” (dos pastores), fazendo uma opção preferencial pelos pobres. O Papa Francisco está certo.

Urge o retorno da teologia da libertação e a evangelização dos peregrinos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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