Cartas do exílio. (Por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 01 de Novembro, 2022



 

Eu sou dos tempos das cartas.

Reabri o baú e encontrei um chumaço de cartas antigas, que enviava para mamãe, quando estava estudando no Sul maravilha.

Transcrevo uma delas:

“Alô Mamãe...

Pode ficar tranquila que eu sei o que estou fazendo. A minha participação política na luta junto com os oprimidos é a coisa mais importante de minha vida. A senhora que acredita tanto em Jesus Cristo, não esqueça a vida dele.

Nesse fim de semana que passou fui a São Paulo, passear e assistir a Festa dos Trabalhadores, no primeiro de maio. Foi muito bonito.

Eu entendo a preocupação da senhora e de papai. Geralmente as mães pensam que os filhos são crianças o tempo todo. Eu fico contente em saber que a senhora se preocupa comigo, mas acho que não tem necessidade, a senhora já tem muita coisa para se preocupar.

Como eu tinha acertado, estou mandando 20 (vinte mil cruzeiros), dez mil para a casa e dez mil para Antonio Carlos. Acho que a senhora vai receber o dinheiro antes da carta, porque José Augusto trabalha no Banco e avisa logo que o dinheiro chegar.

Quando receber o dinheiro mande dizer.

Eu queria saber como está a escola de Marquinhos, ele está ficando muito de castigo?

Acho que a senhora podia falar com a professora, como no tempo que a senhora não deixava a professora Helena de Branquinha me bater. Aquilo ainda hoje eu agradeço a senhora. Não é para ter vergonha, é ir lá, com jeito e educação, e falar com a professora. Fala para ela que se o menino for castigado atrasa a inteligência.

Quanto a minha ida a São Paulo, fique tranquila. É quase certo a minha volta para Sergipe. Mas com a política, nunca deixarei de mexer.

Por aqui tudo bem, estou com muita saúde e muita disposição para estudar.

Despeço-me mandando um abração para todos aí em Casa.

Rio de Janeiro, 04 de maio de 1982.”

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

O que você está buscando?