Ajoelhou tem que rezar. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 05 de Novembro, 2022



 

Sou Antonio por promessa de mamãe. Se o primeiro filho fosse homem e nascesse saudável, ela colocaria o nome de Santo Antonio e faria a primeira comunhão no dia que ele completasse sete anos.

Dito e feito: 15 de dezembro de 1961, caiu numa sexta-feira. As sete da manhã estava eu perfilado, de roupa branca, para receber o corpo de Cristo.

O drama foi a confissão. O que dizer? Quais eram mesmo os meus pecados? E se eu falasse bobagem, dissesse coisas que não fossem considerados pecados e o padre me desse uma xinga.

Mamãe me treinou antes: conte isso, isso, isso e aquilo. A bronca é que com o nervoso, eu esqueci. Não disse nada. Não abri a boca. No final, o padre me benzeu e disse: ide em paz, os seus pecados estão perdoados.

Nunca contei isso, tinha medo de ser considerado bobinho para a idade. Sete anos, não são sete dias, e não saber contar os pecados.

Eu não sabia!

Eu me pelava de medo do confessionário. Daquele biombo sagrado, sombrio, fechado com uma cortina de renda, daquele quadrado quadriculado ao lado do ouvido do padre. Não via direito o padre, era na penumbra e ele com uma batina preta. Se ele cochilasse ninguém sabia.

Esse trauma perdurou por mais seis ou sete confissões, até a entrada em vigor das resoluções liberalizantes do Vaticano II. Eu era travado para as confissões.

Ontem visitei a catedral de Estância e me lembrei da primeira comunhão, ao passar por esse confessionário da foto.

O confessionário era o centro da igreja tridentina. O padre controlava o rebanho pela confissão. O Concilio Vaticano II inventou a confissão coletiva, ou melhor, a auto confissão.

Os confessionários estão vazios, não assustam mais. Não são mais necessários, hoje contamos tudo alegremente, pelas redes sociais.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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