A Pessoa é para o nasce? (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 13 de Julho, 2023

 

Encontrei Cirineu fazendo exames, em uma Clínica famosa do Aracaju. Lembra-se de mim, perguntou ele. Eu não o reconheci de primeira, mas como todo mundo, disse-lhe que lembrava. Ele percebeu a minha dúvida, e facilitou: Eu sou Cirineu.

Claro, Cirineu, um rico empresário, que ocupou o poder político em Sergipe por muito tempo. Nunca fui seu amigo, mas o conhecia. Todos o conhecem em Sergipe?

As pessoas no centro do poder político, incorporam o personagem (a autoridade que representam) com tanta paixão, que podem esquecer quem são. Se essa condição se alonga, ao final, tornam-se seres desossados, deslocados do cotidiano. Cirineu me pareceu um fantasma!

Cirineu está entrando nos 80 anos e o poder começa a abandoná-lo. Perdeu os amigos e, dizem, perdeu até os filhos.

Cirineu me confessou: “confio em minha astúcia e vou enganar a morte! Disse-me com a segurança de quem delira: “a engenharia genética marcha para comandar a vida e colocar a imortalidade na DNA”. Ele não se lembra que a morte é desprovida de vaidade, não cede a encantos.

A medicina, em a sua sabedoria milenar, oferece elementos para essa ilusão e sangra a fortuna de Cirineu. Na velhice, quando a procuramos, a medicina nos aprisiona. Não tem saída: a medicina impõe a sua disciplina, as suas regras e as suas prescrições. O seu modo de vida.

Nas antessalas dos hospitais e clínicas, as pessoas esperam a sua vez tensas, amedrontadas, solitárias, mesmo com um acompanhante ao lado. É um ritual contraditório: de medos e esperanças.

A moça que aparece para chamar o próximo, grita com uma voz estridente, aguda, imperativa: Fulano de tal! Se o impaciente demora, ela repete, com um tom ameaçador: FULANO DE TAL!!!! Como se fosse uma última chance. A sala acompanha silenciosa. O infeliz relaxa, chegou a sua vez.

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