Sergipe Del’ Rey. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 24 de Julho, 2023


 

Antonio Risério, antropólogo, poeta e romancista baiano, escreveu uma “História do Povo de Sergipe”. A melhor, a mais completa, a mais verdadeira história de Sergipe que já chegou ao meu conhecimento.

O livro, um alentado volume de 600 páginas, que o autor humildemente define como um ensaio sobre o povo sergipano, foi publicado pela SEPLAN, em 2010, no Governo Marcelo Déda. A apresentação é da inquieta economista Lúcia Falcón, de boas lembranças.

Lúcia Falcón considera a obra poética. Não sei o que ela quis dizer com poética. Achei o elogio simpático, porém exagerado.

O livro esmiúça muita coisa de Sergipe. Fala dos quilombos de Itabaiana, atacados por Fernão Carrilho, em 1671. Fala dos Bantos, dos Jejes e dos Nagôs. Fala dos Boimés, Karapotós, Aramarus, Kaxagós e Xocós. Fala dos Tupinambás e dos Kiriris.

Fala de Lampião e Maria Bonita em Sergipe. Fala do açúcar e do algodão. Fala do Tenentismo, da ditadura militar e da democracia. Do vaqueiro e do boi e da invasão holandesa.

O livro fala do Céu das Carnaíbas.

Fala da passagem de Conselheiro por Itabaiana, em 1874, onde ele ganhou os primeiros seguidores. Levou de Itabaiana uma imagem de Santo Antonio, que viria a ser o padroeiro do Arraial do Belo Monte, em Canudos.

Confesso a minha ignorância: não conhecia essa história de Sergipe, de Antonio Risério. Futucando o acervo da Biblioteca Municipal Florival de Oliveira, estava lá essa preciosidade.

Itabaiana tem sido generosa comigo. Me botaram para trabalhar entre uma biblioteca e um museu. Me senti uma raposa no galinheiro. Nunca fechei a porta do gabinete e nem liguei o computador.

Voltando ao livro.

Risério é de uma erudição enciclopédica. Mais de trinta livros publicados. Gosto de quem sabe de tudo. Desconfio dos especialistas.

Risério passa um pente fino nas coisas escritas sobre Sergipe, põe em ordem, analisa, compara, cria uma narrativa inteligível, tendo o povo como protagonista.

Era o livro que eu pedia para Luiz Antonio Barreto escrever. Luiz Antonio não teve tempo. Perdemos essa síntese. Antonio Risério procurou cumprir a tarefa.

Diz Risério, no livro: “para uma tentativa de compreensão mais aberta, real e profunda da alma e da vida da gente da Cotinguiba, o xangô e a taiera tem muito mais a dizer do que a Academia Sergipana de Letras.” Sou forçado a concordar.

Recentemente, Risério foi notícia nacional empunhando ideias polêmicas. O homem pensa! Não se pode dizer o mesmo, de muita gente encastelada em cátedras acadêmicas.

Os baianos quando estudam Sergipe, vão fundo. As clássicas pesquisas de Luiz Mott clarearam muita coisa da história sergipana. Agora foi Antonio Risério.

Antonio Risério não se considera herdeiro de Sílvio Romero, Tobias Barreto, Felisbelo Freire, Joel Silveira, Gilberto Amado, João Ribeiro, Beatriz Goes, Terezinha Oliva, Luiz Antonio Barreto, Luiz Eduardo Costa e Manoel Bomfim. Contudo, herdou muito da melhor tradição intelectual sergipana.

Uma História do Povo de Sergipe é um livro de flashes, pistas, veredas, trilhas, picadas e atalhos. Não é uma enfadada tese acadêmica. É um livro vivo, cheio de opiniões.

Adoro os “achismos” de gente inteligente.

Requeiro a competente Antonia Amorosa, Secretária da Cultura de Sergipe, conterrânea da minha Aldeia: mande reeditar “Uma História do Povo de Sergipe”, e distribuir na rede escolar, nas feiras e mercados, nas bibliotecas, nas igrejas e terreiros, nas universidades, e a quem interessar possa.

Concluo, agradecendo ao pensador Antonio Risério: obrigado, por ter se interessado por Sergipe.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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