A fé remove montanhas... (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 11 de Agosto, 2023


 

Ontem, assisti ao nascimento de mais uma peregrinação, em Sergipe. Pelas dificuldades da trilha, uma caminhada longa, em terreno íngreme, ao pé da Serra. Só a fé movia aquelas pessoas. Velhos, crianças, curiosos e muitos devotos.

A fé não precisou remover a montanha, os devotos se moveram até ela.

Em breve, essa peregrinação de Santa Dulce assumirá as dimensões das de Divina Pastora e Nossa Senhora Aparecida, em Ribeirópolis.

Essas manifestações segue a lógica da psicologia das massas, como dizia Freud. Coletivamente, as massas obedecem a um inconsciente médio, onde a exaltação da fé atinge a todos, com um intensidade superior a fé individual de cada um. Até dos incrédulos! Não se trata de acreditar ou não, basta sentir.

Numa sociedade atomizada, onde o individualismo domina, esse retorno ao sagrado, a fé tridentina, é uma forma de resistência a teologia da prosperidade.

O padre Zezinho descreveu em verso, essas manifestações de fé:

“É fato que a palavra não alcança, que nenhuma explicação sabe explicar, é muito mais do que vê um mar de gente, terá que ter simplicidade, para chorar sem entender.”

Em quase todas as religiões, o coração é sede dos sentimentos, da psique, da inteligência, alegria e tristeza, amor e ódio, aflição e sofrimento, da coragem e do espírito. O coração é o interior do homem, só Deus o conhece. Tudo reside no coração. A demonstração de amor continua sendo a imagem do coração.

As peregrinações atingem o coração. Foge da racionalidade do discurso científico e das narrativas profanas. O sagrado é uma dimensão humana, de crentes e descrentes, de fiéis de ateus.

No final do Dezenove, a ciência descobriu esse equívoco, comprovou que tudo isso encontra-se no cérebro, independe da transcendência. A vida foi dessacralizada.

A filosofia do século XIX matou deus, criou o humanismo. Sentimos hoje, a urgência da ressacralização da vida, uma volta a metafísica.

O coração continua a sede da alma. Para as religiões pouco mudou. A adoração continua ao Sagrado Coração de Jesus. Não se adora o cérebro de Jesus.

Por outro lado, as igrejas católicas estão vazias, inclusive nas missas dominicais e as peregrinações lotadas de gente.


 

O que houve? O clero se afastou dos devotos, perdeu empatia. São surdos para as pregações do Papa Francisco?

Falta a Igreja católica perceber a fé. Sair do auto isolamento burocrático. Acho que não perceberam que os devotos estavam ali, pela fé em Santa Dulce.

Foi isso que observei na peregrinação de Santa Dulce. Os devotos precisam de novas Santa Missões? Perguntam os intelectuais...

Respondo: Sim!

Se for para conter o avanço da teologia da prosperidade e a ilusão na sociedade do desempenho, que venham as Santas Missões.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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