O sergipano João Ribeiro. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 11 de Agosto, 2023


 

Luiz Antonio Barreto contava ter ouvido de Gilberto Freire: “Em Sergipe, grande é João Ribeiro.” Claro, o intelectual pernambucano visava diminuir Tobias Barreto, que dominou a escola jurídica do Recife.

Entretanto, Gilberto Freire estava certo. Intelectualmente, João Ribeiro foi o maior dos sergipanos.

João Ribeiro nasceu em Laranjeiras, em 24 de junho de 1860, no dia de São João. Foi batizado como João Batista Ribeiro de Andrada Fernandes. Depois foi cortando. Ficou órfão de pai, aos oito anos. Foi criado pelo avô, um liberal que possuía a maior biblioteca de Sergipe.

João Ribeiro fez os primeiros estudos em Laranjeiras, onde foi colega de turma de Antonio Militão de Bragança, o mais importante médico em Sergipe, na transição entre os séculos XIX e XX. Depois transferiu-se para o Atheneu, em Aracaju.

No Atheneu, João Ribeiro foi colega de Silvério Fontes, depois médico que clinicou em Santos, onde fundou o movimento socialista no Brasil. Silvério Fontes, pai do poeta Martins Fontes, é outro sergipano pouco conhecido.

Com tantos amigos médicos, João Ribeiro foi à Bahia estudar medicina. Não gostou. Migrou para o Rio de Janeiro e matriculou-se na Escola Politécnica, para ser Engenheiro. Também não gostou. Virou historiado, jornalista, gramático e filólogo.

João Ribeiro foi professor de História Universal no Colégio Pedro II. Escreveu, publicou e pensou muito. Escreveu três gramáticas e duas História do Brasil.

Em 1894, João Ribeiro formou-se em ciências jurídicas e sociais, na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi viver na Europa, representando o Brasil em atividades literárias.

Quando a Academia Brasileira de Letras foi criada, em 1896, João Ribeiro estava na Europa. Dois anos depois, foi eleito para a Academia, e incluído entre os fundadores.

Publicou estudos sobre filologia, poesia, ficção, memórias, crítica literária, antologias, ensaios, almanaques, traduções e dicionários. As obras completas de João Ribeiro compõem-se de 57 volumes.

Uma sugestão a Secretária da Cultura, Antônia Amorosa: republique essas obras, para ressuscitar o maior dos sergipanos e tirá-lo do esquecimento.

Os sergipanos precisam de autoestima.

Dos eruditos sergipanos, que eu tive acesso, escreveram sobre João Ribeiro: Jackson de Figueiredo, Laudelino Freire, Sílvio Romero e Pires Wynne.

Entre os contemporâneos, conheço um belo livro de Núbia Marques, “João Ribeiro sempre”, publicado em 1996. Já ia esquecendo. Em 1979, o Governo de Sergipe publicou “A Língua Nacional e outros estudos linguísticos”. Muito bom.

Finalizo, com um trecho da autobiografia de João Ribeiro: “Os homens de pouca alma são práticos, ativos, rápidos e amigos das experiências. Os de muita alma são de natureza indecisa, platônicas, inúteis e incapazes de perceber as conveniências próprias. Eu nasci com muita alma.”

Desconheço os novos estudos sobre João Ribeiro. Quem pode me ajudar?

João Ribeiro casou-se com Dona Leopoldina Carneiro de Mendonça, e tiveram 16 filhos. Cresceu e multiplicou. Faleceu em 1934, no Rio de Janeiro.

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

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