O Parque dos Lobos. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 08 de Setembro, 2023


 

Algumas entidades médicas carregam a bandeira de uma medicina humanizada, de boca para fora, sem ações efetivas nessa direção. De positivo, assumem que a medicina está desumanizada, caso contrário, a medicina não precisaria dessa humanização.

Sou do tempo que existia um movimento sanitário ativo, lutando por essa humanização. São águas passadas...

A Reforma sanitária brasileira construiu o SUS, é verdade, um fruto primoroso. Entretanto, o resultado da Reforma foi a implantação da medicina de mercado. Uma medicina voltada para o lucro.

Concordo com o Frei Hans Stapel Ofm, “uma medicina que explora os pacientes mesmo em condição de vulnerabilidade, sem qualquer sensibilidade para a dor e o sofrimento do próximo.”

Acabo de ler “O Parque dos Lobos”, de Henrique Prata. Isso mesmo, um “Prata” neto de Ranulfo Prata, médico e escritor lagartense, que migrou para São Paulo, no início do século XX. Henrique é um fazendeiro rico de São Paulo, muito rico, movido pele fé cristã.

Se eu acredito? Acredito! Estou vendo...

O livro coloca o dedo na ferida. Aponta, sem arrodeio, o porquê da medicina está desumanizada. Vai mais longe, esclarece como o mundo político tira proveito.

A medicina de mercado é uma terra de lobos. Muitos não precisam das peles de cordeiros. São lobos com a pele de lobos.

Deus nos proteja!

O livro de Henrique também fala das mazelas da política sergipana. Entendi o porquê o ex-governador ficou tão aborrecido, quando que eu falei que ele, mesmo sendo de Simão Dias, não dava a menor importância ao Hospital de Amor, em Lagarto. Ele me chamou de mentiroso num palanque. Uma palavra pesada. Prezo pela verdade.

O capítulo 10, do livro de Henrique, abre o jogo, sem meias palavras, como funciona o atendimento ao câncer em Sergipe. Como sergipano, terminei a leitura envergonhado, com a falta de vergonha alheia. Agora entendi a raiva de sua excelência.

Como se sabe, o governo estadual está construído outro Hospital do Câncer, em Aracaju. Isso se arrasta a décadas. Sergipe pode ter a maior oferta de leitos oncológicos per capita do mundo. Isso é bom?

Perguntei a um colega oncologista, como ele via o Hospital de Amor. Sem ir ao fundo, ele fez aquele ar de desconfiança com a filantropia: “Acho o Henrique um sabidão, que deve tirar proveito disso.” Perguntei o que ele sabia, se tinha evidências. Nada! Só suspeitava. Ainda deu aquele risinho inteligente.

Eu não suspeito! Viva o Hospital de Amor.

Os Hospitais de Amor são espaços onde se pratica a medicina humanizada. Os médicos trabalham em regime de dedicação exclusiva, não precisam ficar no corre-corre, de um emprego para outro. Soube que os primeiros médicos estão chegando. Soube também, que a maioria vai morar em Itabaiana. Rsrsrsrs Fazer o quê?

Vivemos sob a tutela da malandragem. Qualquer ato de grandeza é logo posto sob desconfiança. Se acredita em qualquer suspeita, mesmo as maldosas e as interessadas.

Henrique Prata encontrou o caminho dos serviços públicos, não estatais. O colega oncologista ainda questionou: “mas os hospitais dele recebem financiamento público, emendas parlamentares.” Claro, são públicos. O acesso é universal e gratuito.

Quem quiser entender as razões da desumanização da medicina, compre e leia o livro de Henrique Prata. Aos amigos, eu empresto, desde que me devolvam. Emprestar livro é um perigo, nunca voltam.

Comprei o “Parque dos Lobos” na livraria Sebo Xique, de Clóvis Barbosa. Enfim, Aracaju voltou a ter uma livraria cuidada por um homem de letras. Bosco Rollemberg teve uma livraria, que deixou saudades. Viva os “Boscos” da cultura. Procurei livros de João Ribeiro. Não tinha. Comprei um de Genolino, “Um Menino Sergipano”.

Voltando ao Parque dos Lobos.

Henrique Prata é o Presidente da Rede Hospitais de Amor, onde se presta assistência oncológica de primeira qualidade, gratuita e equânime. Tudo o que eu desejo para o SUS. Estamos longe.

Estamos às vésperas da inauguração de mais uma unidade de amor, em Lagarto. Junto com os cursos da Saúde da Universidade Federal de Sergipe e do Hospital Universitário, Lagarto se constituirá num polo avançado de Saúde.

Eu tenho enfrentado com bom humor, a provocação: E aí, Lagarto agora tem aeroporto. Tenham calma, o aeroporto de Itabaiana já está no forno. Aos desavisados: o aeroporto em Lagarto, é parte do Hospital de Amor.

Brincadeira à parte, parabéns a Henrique Prata pelo livro: bem-feito, verdadeiro e corajoso.

“Muitos se ufanam: não devo nada a ninguém! Engano, devemos muito a todos.” Cora Coralina.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

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