Quem merece ser biografado. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 02 de Outubro, 2023 - Atualizado em 02 de Outubro, 2023

 

O verbete pessoal é um filhote bastardo das biografias. Eu escrevo verbetes, de vez em quando. Quase sempre elogiosos. Geralmente, verbetes de gente simples, que nunca terão uma biografia.

Lira Neto acaba de publicar o opúsculo “A Arte da Biografia”. Um manual indispensável aos biógrafos. Como escrever histórias de vida, retratos das almas.

Lira Neto alerta para as biografias encomendadas. São hagiografias típicas. Lembram a “Legenda Áurea”, escrita pelo padre dominicano Jacopo de Varazze.

O biografado parece um predestinado, um indivíduo exemplar, um herói, um sábio, quase um santo. No final, a família do homenageado pode fazer uma leitura prévia, antes da publicação, buscando reparar pequenos lapsos.

Os agraciados com essas biografias encomendadas, não são homens comuns, com virtudes e defeitos. São semideuses. Ainda vivos, as redes sociais são repletas de elogios a esses heróis. O poder e a riqueza apagam as vilanias e acentua a competência, mesmo as limitadas.

Quando o biógrafo é talentoso, os elogios são discretos e passam para os leitores desavisados como verdadeiros. Em outros casos, a exaltação é exagerada. Até os desatentos percebem.

Não compartilho com a crença dos clássicos Marx e Durkheim, para quem as biografias são inúteis, pouco representam, pois os indivíduos não fazem a própria história. As circunstâncias já as encontram prontas. Marx e Durkheim descredenciaram os indivíduos.

Para eles, a história depende das ações coletivas e das estruturas.

Sei não, eu acho que as histórias dos grandes homens contam boa parte da história do mundo. Aprendi muito lendo biografias. Uma confidência: geralmente, acho os livros de história, os acadêmicos, chatos e presunçosos. Algumas vezes parciais.

Eu mudei a impressão sobre o Padre Cícero e conheci uma parte da história do Ceará, com a leitura da biografia escrita por Lira Neto. A biografia mostra o Padre em suas contradições.

Depois da leitura, eu concluir: o Padim Ciço é santo. Não preciso que a Igreja aprove a minha fé. Não se precipitem: eu também acho que Antonio Conselheiro deva ser canonizado.

As razões são longas e impregnadas de subjetividades.

Gosto de ler biografias. Mesmo as encomendadas.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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