Pensar Itabaiana (2) . Por Antonio Samarone.

Antonio Samarone, 01 de Dezembro, 2023 - Atualizado em 01 de Dezembro, 2023


 

A historiadora Thetis Nunes, defendia que a virada de Itabaiana de província agrícola para um próspero entreposto comercial, ocorreu no inicio da década de 1950, com a criação do Ginásio Murilo Braga e a chegada da BR – 235.

Antes, de relevante no campo educacional, Itabaiana só possuia o Grupo Escolar Guilermino Bezerra (1936/37).

Em 1953, saiu a primeira safra de formados no Ginásio Murilo Braga.

Em 1950, Itabaiana possuia uma população de 35.987 habitantes, sendo que 80% vivia na zona rural. Na cidade mesmo, moravam um pouco mais de 5 mil habitantes.

Antes de continuar a leitura, observe o mapa acima, encontrado nas publicações de José de Almeida Bispo.

O açude da Macela é de 1953.

O mapa diz quase tudo, da realidade urbana de Itabaiana. Rua estreitas, mal cuidadas, um casario pobre, dominado pelas “casas de rancho”, usadas pelos proprietários apenas nos dias de feiras e nas festas religiosas.

Somente em 1948, foi criada a Associação Atlética, o primeiro clube social da cidade. Lembro-me do conflito, quando a Atlética implantou os bailes com luz negra. Credo em cruz!

Em 1949, criou-se um Gremio Literário e Esportivo (GLEI), em Itabaiana.

A Paróquia de Santo Antonio estava sob o comando, desde 1939, do Padre udenista, Eraldo Barbosa. Ele ficou em Itabaiana até 1954 e iniciou a construção da Maternidade São José e do Cine Teatro Santo Antonio. ( o cinema do Padre).

Em 1955, assumiu a Paróquia de Itabaiana o Padre Arthur Moura Pererira, um cura de viés iluminista. Que no final, deixou a batina para se casar.

O envolvimento apaixonado do Padre Eraldo na política local, aliado de primeira hora de Euclídes Paes Mendona, apressou a sua transfêrencia de Itabaiana.

O historiador Carlos Mendonça, cita um panfleto distribuído pelo padre Eraldo, dias antes das eleições de 1954, nas missas da igreja de Itabaiana: (o fake news vem de longe).

“É pecado mortal votar com Jason Correia, Manoel Teles e Edélzio, porque estão com os comunistas e os divorcistas, Partidos condenados pela Igreja.” (os cadidatos citados no panfleto são do PSD, adversários de Euclides em Itabaiana).

Euclídes Paes Mendonça deve muito, políticamente, a militância do Padre Eraldo.

No inicio da década de 1950, predominava em Itabaiana a cultura das Sacristias. Fora, só a música, com a centenária Filarmônica e a fotografia de Miguel Teixeira, Joãozinho retratista e Percilio Andrade.

Em 1950, Itabaiana inaugurou um matadouro e um quartel de polícia. A Urbe começava a se enfeitar.

Entretanto, o fato maior foi político: Euclídes Paes Mendonça assumiu a Prefeitura e iniciou uma grande reforma urbana. Alargou ruas, abriu novas, pissarou as estradas vicinais, aterrou tanques e lagoas, distribuiu lotes para quem quisesse vir morar na cidade.

Euclídes trouxe postos de gasolina, agências de automoveis e construiu até um campo de aviação.

Nesse inicio de 1950, os primeiros caminhões começam a chegar em Itabaiana. A CIBRAZEM é de 1959. Em janeiro de 1957, chegou a luz elétrica de Paulo Afonso. Só sabe a importância, quem viveu no escuro, à luz do candeeiro.

Nesse períodos os tabaréus de Itabaiana dominaram as redes de supermercados (recém inventados) da Bahia, Paes Mendonça, de Pernambuco, o Bom Preço, e de Sergipe, com o G. Barbosa.

Albino Silva da Fonseca, tabaréu do Pé do Veado, montou as primeiras granjas, fogão á gás, água mineral, fábrica de biscoitos e a rádio Liberdade.

Não esqueci de Oviedo Teixeira, é que o espaço é curto.

Euclides preparou Itabaiana para a nova realidade econômica: a chegada do capital mercantil. Os artesões (sapateiros, alfaiates, marceneiros) quebraram, com a chegavam dos produtos industrilizados, em oferta na rede de lojas que brotavam.

A zona urbana, a cidade, dobrou a sua população entre os censos de 1950 e o de 1960. A cidade cresceu para 11 mil habitantes. Uma explosão demográfica.

No incio da década de 1950, o capitalismo, em sua forma mercantil (comércio e transportes), chegaram à Itabaiana.

Na década de 1950, se deu essa arrancada para a transformação de Itabaiana em polo comercial.

Euclides troxue até o macareme (1958), um canaval fora de época, sob influencia do frevo pernambucano, que depois virou a micarana, festa da música baiana.

No final de 1950, chegou o futebol de salão, na Praça da Feira.

Fefi, do Aranarinho Tem Tem, trouxe o Papai Noel para Itabaiana.

Papai Noel era um desconhecido dos meninos do Beco Novo. Eu vi Papai Noel pela primeira vez aos 14 anos, não achei graça.

O Bar Brasília de Zé de Herminio abriu as suas sete portas, com duas mesas de sinuca. Oferecia vitamina de banana e tody, com sanduíche de queijo do reino, para os remediados.

O radio sharp a pilha, envolvido em capa de couro, chegou à Itabaiana. Chegaram as calça lee e as de tergal, as camisas balloon e as volta ao mundo. Ainda não tinha os cabeludos.

O mundo LGBTqmais, limitava-se a João de Felipinho, Cidália e Uago. Depois explodiu.

Essa Itabaiana, do final da década de 1950, começava a sua modernização mercantil. Os tabaréus foram extintos. A divisão social entre praciantes e tabaréus perdeu o sentido. O capitalismo chega para todos.

Eu fui tabaréu de tamanco e ceroula. Nasci numa casa de rancho, no Beco do Ouvidor, vizinho tenda de Nivinha.

A escola pública me deu régua e compasso.

Antonio Samarone – médico sanitarista. 

 
 

 

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