Itabaiana, cidade dos milagres (1). (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 21 de Dezembro, 2023 - Atualizado em 21 de Dezembro, 2023

 

“Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos” - Gooethe

Os primeiros sesmeiros do Vale do Jacarecica (1606), trouxeram a imagem de Santo Antonio no bornal. Uma imagem de madeira, pequena. Antonio era o santo nacional em portugal.

Denomiram a comunidade fundada de Arraial de Santo Antonio.

Como se percebe, a religiosidade itabaianense é ancestral, acompanhou a alma dos primeiros colonos. A religiosidade é um arquetipo poderoso, um atributo do povo, passado de geração a geração, parte do inconsciente coletivo.

Religiosidade não se cria por decreto, para viabilizar um projeto de turismo. Não adianta montar toda uma infreestrutura, investir no marketing para atrair turistas, se a santidade a ser visitada não está na alma do povo.

A prosperidade de Asa Branca, pela beatificação interesseira de Roque Santeiro, só deu certo na novela de Dias Gomes. Os mais velhos ainda lembram.

Em Itabaiana, a religiosidade é visceral.

Santo Antonio é um taumaturgo franciscano. O Santo escolhido pelos primeiros colonos em Itabaiana, foi um milagreiro. Existem vários caminhos para se alcançar a santidade, o milagre é um deles.

O santo padroeiro poderia ter sido um mártir ou um doutor em teologia. Foi um milagreiro!

O homem pós moderno é um tolo, um avexado que não acredita em milagres, só cultiva o que pode ser abreviado. O homem abreviou até as narrativas. O seu milagre é o big data e a inteligência artificial.

A ciência confirma os milagres. São variações raras de eventos da natureza. São essas variações imprevisiveis (milagres), que possibilitaram a origem da vida e a evolução de Darwin. Tantos nas versões narradas pelas cosmogonias religiosas como nas científicas.

O milagre está previsto nas leis naturais. Quem estudou estatistica sabe, que certos eventos estão fora da curva normal.

Certas doenças o prognóstico é fatal, a pessoa evolui rapidamente para morte. A medicina sabe, não vende ilusões. Entretanto, em casos rarrísimos, o caminho contraria a medicina e o sujeito escapa daquela doença. É fato! Hipócrates sabia: “A vida é curta e a arte é longa, o julgamento é dificil (nem nunca, nem sempre) e a experiencia enganosa.” Nesta brecha entra o milagre.

Santo Antonio também foi uma proteção contra a heresia calvinista dos holandeses.

Segundo Serafim Leite, com os primeiros colonos em Itabaiana, além de Santo Antonio, chegaram três ordens religiosas: jesuítas, franciscanos e beneditinos.

A Ordem de São Bento (beneditinos) criou a “Irmandade das Santas Almas do Purgatório”, e comprou o sítio na Caatinga Ayres da Rocha, ao padre Sebastião Pedroso de Goes, para construir a Villa. O padroeiro dessa Irmandade é o Arcanjo São Miguel, que protege as almas, livrando-as do fogo eterno.

O lema da ordem de São Bento é “Ora e Labora”, ou seja, reza e trabalho.

Em 1581, os beneditinos chegaram ao Brasil. Antes deles, os jesuítas e os franciscanos estavam envolvidos no projeto da Santa Sé de catequização, conversão dos nativos e assistência espiritual dos colonos.

Quando o Arraial de Santo Antonio se transformou em Villa, foi denominada: “Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana”. Um acordo entre os franciscanos (Santo Antonio) e os beneditinos (São Miguel), padroeiro da ordem de São Bento e protetor das almas.

Vamos facilitar a compreenção:

A criação da Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana (1675), contemplou as duas Ordens Monásticas. Santo Antonio (o milagreiro) e Almas (referência a São Miguel). Itabaiana é a majestosa Serra, que ali já se econtrava.

A serra foi avistada por Américo Vespúcio, em 1501.

No altar principal da matriz de Itabaiana sempre existiu as duas imagens (Antonio e Miguel), lado a lado. E é assim até hoje.

A religiosidade acompanhou o primeiro português que por aqui chegou, para criar gado e depois plantar coentro e quiabo. Essa religiosidade é centrada na espera dos milagres do Santo protetor.

A religiosidade em Itabaiana é fortalecida pelos milagres. Herança de Santo Antonio.

Gente que perdeu o tempo e a oportunidade de se casar, por exemplo, voltava a ter esperanças no matrimônio, pela intervenção dos milagres do Santo. “Só casa por milagre”, ouvi muito esta sentença.

Eu cresci sabendo que poderíamos perder qualquer festa, menos a procissão de Santo Antonio. Os meus irmão são todos Antonio. Mamãe, nem pensava: nasceu filho homem, era Antonio! Lá em casa, somos quatro.

O glorioso Santo Antonio, protegeu muita gente e aliviou muitos sofrimestos. Em Itabaiana ele se tornou até o padroeiro dos motoristas. No resto do mundo é São Cristóvão.

No próximo texto, contarei a saga de Santa Dulce dos Pobres, em Itabaiana.

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.

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