O poeta e dramaturgo Hunald... (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 21 de Dezembro, 2023 - Atualizado em 21 de Dezembro, 2023

 

 

 

Um colega médico, parteiro aposentado, me fez uma pergunta de sopetão: hoje, a sua alma vibra mais em Itabaiana ou em Aracaju?

Fiquei dúvidas. São coisas diferentes. Itabaiana me pariu e amamentou, vivi a minha mocidade; Aracaju, me acolheu e formatou, me deu cidadania.

Existe uma diferença de gênero. Itabaiana é feminina, vem da Serra, dize-se a Itabaiana; Aracaju é masculina, vem do Riacho, na Colina do Santo Antonio, dize-se o Aracaju. É o que está nas certidões de nascimentos.

Eu cheguei no Aracaju em 1974, para estudar. Fui me enturmando. Representei o povo, no Parlamento municipal. O que me honrou.

Para relembrar a década de 1970, em Aracaju, eu desencavetei a “Morte no Estúario”, do poeta Hunald. Um livro profundo sobre o cotidiano dos anos de chumbo, no Aracaju.

Os dedos duros, os lambe botas, a célula comunista do Cacique=Chá, as pescarias de Mazze Lucas e as poesias de hunald.

Tudo meio “luscus/fuscus”, onde todos os gatos eram pardos.

Hunald é um poeta de versos avermelhados. Esse livro tem um estilo antigo, anterior a linguegem do WhatsApp. Os parágrafos são longos, a narrativa não tem verdades antecipadas, o diálogo flui sem querer chegar a lugar nenhum. Aparentemente.

Hunald ensaiou com o Mestre Euclídes uma peça de Guerra: “A minha rainha é republicana/ oi sergipana que te deu rima fui eu/ quem vai mais eu assubir a serra/ O Treme-Terra sou eu.”. Zé Culote, um samango do Mosqueiro, alertou ao poeta sobre os riscos de prisão.

O poeta caiu na obscura clandestinidade. Por uns dias...

O livro do poeta Hunald, Morte no Estuário, é claro sobre os medos, sonhos, dúvidas do dia a dia, de uma cidade cheirando a Província. Hunald era exemplo, para a juventude subversiva, recém chegada da Aldeia, deslumbrada com a Capital.

O texto do Poeta é saboroso:

“A tarde não sabia que caminhava. O piano não sabia que tocava. O vento não sabia quer soprava. E o rio, o rio não sabia que nadava. Dêem esta ausente consciencia às coisas e estarão mortas. Somente o homem sabe ser portador do seu silencio. E aí é que germina a sua pergunta: por que caminho?”

Nunca soube como me aproximar. Não conheço a sua obra, em profundidade. Mas lembrava-me da Morte no Estuário. Uma mapa psicologico da década de 1970. Com as partidas de Hunald, Araripe e Santos Souza a poesia em Sergipe encolheu. Como poeta assumido, de carteirinha, sobrou Jozailto. E outros que eu não conheço.

Sobre a década de 1970, em Aracaju: todos podiam ser comunistas.

Lembro-me que denunciaram até um desembargador papa hóstias, responsabilizado-o de comandar os programas de educação de base, da Rádio Cultura. Eram as ideias de Paulo Freire.

Findei a leitura na mesma dúvida que iniciei. Onde a minha alma vibra mais? O importante é que continua vibrando!

Saudades do poeta Hunald.

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