INICIANDO A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 25 de Fevereiro, 2022 - Atualizado em 25 de Fevereiro, 2022

 


Após os quatro regulares anos, concluído o curso de engenharia agronômica na Universidade Federal da Bahia - UFBA nos anos setenta. Não houve reprovação nas disciplinas semestrais. Grade curricular cumprida. Formatura realizada. Quarto alugado devolvido. Crédito educativo e monitoria encerrados. Colegas e amigos partiram. Não era mais estudante. Engenheiro agrônomo titulado. Trabalho a espera. Realidade no verso do poeta: “a festa acabou, o povo sumiu. E agora José?”.

Emprego aguardado. Aprovado como pesquisador na Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia - EPABA. Tudo podia acontecer. Garantias individuais suspensas. Tempo de autoritarismo. Jamais imaginei trabalhar e residi em Cruz das Almas, o local do campus universitário. O cenário traçado era iniciar a trajetória profissional em outros lugares. Temoroso com a prática da agronomia na sua realidade. Engenheiro agrônomo juramentado, com alguns estágios e treinamento em metodologia científica. Modesto Currículo vitae. Namoro certo com uma cruzalmense. Espera ansiosa para assinar o contrato de trabalho na sonhada atividade de pesquisador. O futuro mostrou que formos visionários ao criar o Núcleo de Estudos e Pesquisas - NUCEP no percurso do curso universitário - um modesto protótipo de investigação científica.  

Como estudante, era diligente, visitava as organizações agropecuárias, participava de eventos, dialogava com empresas, ex-alunos e professores. O assunto era o mesmo: estágios e empregos. Antes da partida, uma lembrança saltou a mente: agradecer ao orientador do estágio na EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, o acolhedor e brilhante pesquisador Hermes Peixoto. Uma deselegância sumir sem penhorar as aleluias a um ser tão generoso. Ao chegar na EMBRAPA, após os protocolares agradecimentos, conversamos sobre as perspectivas de trabalho e a continuidade da pesquisa do estágio com o Cyperus rotundus, a chamada “tiririca”. No decorrer da conversa, Hermes comentou que o novo Chefe da EMBRAPA era o professor Raymundo Fonseca.

Uma pausa mental durante a conversa. Lembrança do excelente mestre da disciplina “Fertilizantes” e então Secretário de Agricultura do Estado da Bahia. Matéria de final do curso. Didática envolvente. Relacionamento amigável. Ímpar contentamento atender as aulas e escutar as suas experiências. Nunca tinha estado tão próximo de uma autoridade. Ao final do curso, fui bem avaliado nas provas e trabalhos da disciplina. Num deles, apresentei uma “coleção de fertilizantes” em tubos de ensaios e detalhado relatório. Visitei a misturadora de adubos da Companhia de Materiais Agrícolas da Bahia - COMAB que funcionava no campus. Entrevistei o engenheiro agrônomo responsável. Obtive dados e informações relevantes. Recebi do admirável professor, além da nota máxima, elogios e uma frase que não foi esquecida: “quando terminar o curso me procure”. Uma esperança, hoje diria que foi um “esperançar”, para quem não tinha referências familiares e políticas, num tempo em que os concursos públicos não eram compulsórios. O comum era o “quem indica”. Ao lembrar a frase e em silêncio, encerrei a conversa com Hermes e me dirigi à Secretaria da Chefia para solicitar uma audiência com o Chefe, o professor Raymundo Fonseca.

Os circuitos da história estavam abrindo. Audiência concedida. Encontro marcado. Presente no dia e hora definidos. Vestir a melhor roupa. Cabelo cortado e barba feita. Não era mais estudante. Bem recebido pelo mestre. Após os iniciais relatos da vida estudantil. Fui direto ao assunto. Repeti a frase dita tempo atrás. O mestre lembrou e fez o convite para trabalhar na EMBRAPA em Cruz das Almas. Como estava concursado na EPABA, foi solicitada à cessão. A EMBRAPA era acionista das empresas estaduais de pesquisa agropecuária.

Iniciada a carreira de pesquisador no lugar que “um dia sonhei ser meu”. Utopia virou realidade. Passados três anos, quando o professor Raymundo, foi um destacado Diretor Executivo da EMBRAPA, fui contratado como pesquisador da EMBRAPA, empresa federal coligada do Ministério da Agricultura. Nela realizei uma longa carreira profissional de mais de quatro décadas. Trabalhei em vários locais e em diversas unidades, até a aposentadoria. Após tantas vitórias, não imaginava que menos de um mês adiante à formatura, sofreria uma derrota que abalou profundamente as estruturas do ser nas dimensões física, psicológica e espiritual. Fui acometido por uma inusitada e grave enfermidade. O primeiro desafio na “trajetória profissional”, não foi o da agronomia, mas o da vida.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo

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