O GRANDE ENCONTRO [IX] por Manoel Moacir Costa Macêdo
Após os quatro anos cronológicos, concluir o curso de engenharia agronômica na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Cumprida rigorosamente a grade curricular. Não houve reprovação e “tive sorte” nas matrículas semestrais. Formatura realizada. Quarto alugado devolvido. Crédito educativo e monitoria encerrados. Colegas e amigos partiram. Não era mais estudante. Engenheiro agrônomo titulado. Trabalho a espera. Realidade do verso do poeta: “a festa acabou, o povo sumiu. E agora José?”.
Emprego aguardado. Aprovado na Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia - EPABA. Tudo podia acontecer. Tempo de autoritarismo. Garantias individuais inexistentes. Namoro certo com a filha de Seu Ataíde Passos. Jamais imaginei trabalhar em Cruz das Almas. O cenário, era experimentar o desafio profissional em outros lugares. A coragem sempre foi companheira. Humildade também. A humildade é a mais relevante das virtudes, sem ela não existem as demais. Temoroso com a prática da agronomia. Engenheiro agrônomo juramentado, com alguns estágios e treinamento em metodologia científica. Modesto currículo vitae. Espera para assinar o contrato de trabalho com a EPABA na sonhada atividade de pesquisador. O futuro mostrou que formos visionários ao criar o Núcleo de Estudos e Pesquisas - NUCEP, protótipo da atividade científica.
Como estudante, era ativo, visitava as organizações agropecuárias, participava de eventos técnicos, mantinha correspondência com colegas e empresas, recorria aos ex-alunos e dialogava com os professores. O assunto era o mesmo: oportunidades de estágios e empregos. Antes de deixar Cruz das Almas, uma lembrança saltou a mente: agradecer ao orientador do estágio na EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, o acolhedor Hermes Peixoto. Uma deselegância, sumir sem penhorar aleluias a um ser tão generoso. Ao chegar na EMBRAPA, cumpridos os agradecimentos, conversamos sobre as perspectivas de trabalho e a continuidade da pesquisa com o Cyperus rotundus, a tiririca, sob a sua orientação. No decorrer da conversa, Hermes comentou que o novo Chefe da EMBRAPA era Raymundo Fonseca.
Uma pausa mental durante a conversa. Lembrança do excelente mestre da disciplina “Fertilizantes”. Matéria de final do curso. Didática envolvente. Relacionamento amigável. Patrono da Turma. O paraninfo, foi o Professor Deraldo Gramacho. Era o Secretário de Agricultura do Estado da Bahia. Ímpar contentamento atender as aulas e escutar as suas experiências. Nunca tinha estado tão próximo de uma autoridade. Ao final do curso, fui bem avaliado nas provas e trabalhos de sua disciplina. Num deles, apresentei uma robusta “coleção de fertilizantes” em tubos de ensaios e detalhado relatório. Visitei a misturadora de adubos da Companhia de Materiais Agrícolas da Bahia - COMAB dentro do campus. Entrevistei o engenheiro agrônomo responsável. Obtive dados e informações relevantes. Recebi do admirável professor, além da nota máxima, elogios e uma frase que não foi esquecida: “quando terminar o curso me procure”. Uma esperança para quem não tinha referências familiares e políticas. Ao lembrar dessa frase e em silêncio, encerrei a conversa com Hermes e me dirigi à Secretaria da Chefia para solicitar uma audiência com o Chefe, o Professor Raymundo Fonseca.
Os circuitos da história estavam abrindo. Audiência concedida. Encontro marcado. Presente no dia e hora definidos. Vestir a melhor roupa. Cabelo cortado e barba feita. Não era mais estudante. Bem recebido pelo mestre. Após os iniciais relatos da vida estudantil. Fui direto ao assunto. Repeti a frase dita tempo atrás. Lembrou e fez o convite para trabalhar na EMBRAPA em Cruz das Almas. Como estava concursado na EPABA, foi solicitada a transferência. A EMBRAPA era acionista das empresas estaduais de pesquisa agropecuária no chamado Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA.
Iniciada a carreira de pesquisador no lugar que um dia sonhei “ser meu”. Utopia virou realidade. Passados três anos, quando o Professor Raymundo, se tornou Diretor Executivo da EMBRAPA, fui contratado como pesquisador da EMBRAPA. Nela realizei uma longa carreira profissional de quase quatro décadas. Trabalhei em vários locais, até a aposentadoria. Após tantas vitórias, não imaginava que um mês adiante à formatura, sofreria uma derrota que abalou profundamente as estruturas do meu ser nas dimensões física, psicológica e espiritual. Fui cometido por uma inusitada doença. História a ser contada adiante.
Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo
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