A Principal Herança. (por Antonio Samarone)

Antonio Samarone, 08 de Agosto, 2021



Meu Pai completou 103 anos. Parte dele ficou em mim, como superego.

Papai não deixou nem ouro nem prata, nem mirra nem incenso. O humor foi a sua herança.

O humor é a última fonte de prazer à disposição dos idosos e desenganados. Falo do humor dirigido ao próprio Eu, aos próprios atos e atitude, sem envolver outras pessoas.

O humor que ri das próprias desgraças!

Diante de um afeto indesejado, o humor permite uma economia do sofrimento. A função do humor é reduzir os afetos decorrentes de uma realidade hostil. “O ego se recusa a ser afligido pelas provocações da realidade.” – Freud.

O humor é libertador, permite que os traumas se transformem em princípios de prazer. O humor é um talento herdado mais ou menos por cada um, mas a decisão de usá-lo ou não é de livre-arbítrio. Os portadores da compulsão pelo sofrimento, ou são desprovidos desse talento ou decidiram não usá-lo.

Na atitude humorística o superego é tolerante, permite ao ego uma atitude de criança, uma convivência harmoniosa com a ilusão e um distanciamento da realidade, produtora de emoções indesejadas.

Na atitude humorística, o superego deixa de ser um senhor severo (os antigos anjos da guarda), tornando-se um consolador do ego, protegendo-o contra os sofrimentos. O humor põe um sorriso na tristeza.

Envelhecer é um exercício de desapego.

Envelhecer é reduzir as ambições, aumentar a tolerância e preparar-se para uma morte digna. O humor é a nossa última companhia, que vai até o último suspiro. O humor é uma manifestação da misericórdia divina.

O humor é um dom raro e precioso, que herdei do meu Pai o tanto que mereço.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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